Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 21, 2007

FERNANDO RODRIGUES Um gesto didático

BRASÍLIA - Se tudo começa e termina na política, não seria diferente com a tragédia do avião da TAM. A evidência maior são as imagens de Marco Aurélio Garcia apresentadas pela TV Globo -e amplamente divulgadas na internet. O assessor especial de Lula assistia a uma reportagem na TV apontando a existência de falha mecânica no avião acidentado. Em resumo, as mortes não teriam sido (apenas) em decorrência da desídia do governo. Marco Aurélio comemorou com um gesto obsceno. Bateu a palma de uma mão estendida contra a outra, fechada.
O petista encarnou ali toda a administração federal lulista. Era como se quisesse dizer: "A culpa não é só nossa. Vocês dançaram". Mas "vocês" quem? A maioria da população que certamente enxerga alguma culpa do governo? A mídia? Todos os não-lulistas? Aquele gesto de Marco Aurélio, a rigor, é didático. Mostra a farsa das declarações de pesar dos políticos quando acontece uma tragédia. Em público, fingem consternação. Os de oposição vão até o local onde estão os mortos. Alguns choram. Encenam a solidariedade necessária. Os governistas se fecham em seus gabinetes. Procuram desculpas.
Uma coisa os une: a obsessão sobre tirar proveito político de tudo. Ao comemorar a possível dispersão de responsabilidades sobre o acidente com o avião da TAM, Marco Aurélio nos coloca em contato com a política em seu estado mais puro. Não importa resolver o caos no setor aéreo. O relevante é salvar a própria pele. E comemorar depois a desgraça dos adversários.
O petismo reviveu o funesto episódio protagonizado por Rubens Ricupero, em 1994, quando o então ministro da Fazenda cunhou a famosa frase: "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde". Marco Aurélio, como Ricupero, não conseguiu esconder. Melhor assim.

frodriguesbsb@uol.com.br

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