Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 07, 2007

FERNANDO GABEIRA

Imagens do pântano
SEMANA cheia de estímulos: 200 anos de Giuseppe Garibaldi, 40 anos de uma guerra que impulsionou o crescimento do fundamentalismo, conversa em Porto Alegre com Timothy Gordon Ash sobre os rumos do mundo... Tanta coisa, para voltarmos ao grotesco espetáculo no Senado. Renan Calheiros, isolado, decide resistir até o último momento. O único ponto de apoio de Renan é o governo de esquerda. É uma aliança equivocada, pois ninguém pensava em atingir o governo. Ao contrário, todos acreditam que sua saída significa a recuperação do equilíbrio, num nível superior de estabilidade.
Como explicar a disparidade de visões? A esquerda, com CUT, UNE e MST, está fora da luta contra a corrupção. Não podem imaginar os prejuízos estratégicos dessa escolha. Confirmam para os historiadores que a esquerda sempre teve um duplo padrão. Há os direitos humanos nossos e os direitos humanos de nossos inimigos, há os nossos corruptos e os corruptos deles. Certa vez falei que, num país europeu, ele teria renunciado. Injustiça com o Brasil. Renan e seu apego ao cargo representam um retrocesso em nossa própria história. No governo Itamar Franco, quando havia indícios e investigação contra um ministro, ele saía até que o caso fosse concluído.
De um ponto de vista político, Renan Calheiros está morto. Deveria ler o "Livro Tibetano dos Mortos", em que o conselho é de partir rápido, não insistir em ficar entre os vivos, pois essa rapidez favorece a reencarnação.
São grandes os indícios de que tenha perdido a lucidez. E os que esperam uma solução muito fácil para esse caso terão de reavaliar. Não se trata de um político com visão de futuro, mas de alguém se afogando com a vontade de levar o mundo com ele.
Será um pouco mais longo do que desejamos. Liguei do Sul para um senador para saber da situação, ele disse: "A cada fim de semana, compreendemos que é preciso retirá-lo da cadeira". O que acontece nos fins de semana? Eles travam contato com o mundo real, andam pelas ruas, conversam com os eleitores, sentem o pulso em casa, ouvem relatos de filhos estudantes.
Tudo isso mostra que a imagem de Renan se afogando talvez não seja a mais adequada. Um pântano de areia movediça talvez descreva melhor o processo. A cada dia, ele se debate, a cada dia afunda um pouco mais. Enquanto estiver com os ouvidos de fora, as pessoas continuarão gritando. É certamente um dos casos mais patéticos de abismo entre a dimensão do cargo e a de seu ocupante.

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