Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 07, 2007

RUY CASTRO

Não autorizada
PARATY
- Uma repórter me perguntou se eu pensava em escrever minha autobiografia. Respondi que nem pensar, que não confiava em autobiografia de ninguém, nem na minha. "Quem escreve sobre si mesmo mente muito", expliquei. Daí ela perguntou, brincando, se eu não "escreveria uma autobiografia, mesmo que não autorizada". A idéia era intrigante pelo contra-senso. Tive de rir.
Mas, nos últimos dias, temi que me fizessem essa pergunta a sério. A discussão sobre biografias "autorizadas" ou "não autorizadas" ocupou enorme espaço na imprensa e as duas palavras ficaram quase mágicas, sem que as pessoas soubessem muito bem do que se tratava. Pois, eis.
Uma "biografia não autorizada" é aquela em que o biografado (ou seus herdeiros) toma ou não conhecimento de que se está produzindo um livro a seu respeito e se dispõe ou não a colaborar com o biógrafo. O livro é publicado, e o biografado tem duas coisas a fazer: ou gosta do que leu e telefona para o autor a fim de cumprimentá-lo; ou não gosta e mete-lhe um processo. Subentende-se que só leu o livro depois que este saiu.
Já na "biografia autorizada", o biógrafo e o biografado (ou seus herdeiros) fazem um acordo de papel passado que os torna quase sócios. O biografado se dispõe a dar todas as informações, abrir gavetas, ceder fotos, emprestar documentos, enfim, colaborar ao máximo com o biógrafo. Em troca, este concede ao biografado (ou aos advogados dele) o direito de ler o original antes de este ir para a gráfica, com o que o ilustre estará em condições de cortar o que não lhe agradar. Dependendo da quantidade de cortes, é como se o verdadeiro autor fosse o biografado. E, no fundo, é.
Donde uma "biografia autorizada" faz tanto sentido quanto "uma autobiografia não autorizada". Quer dizer: nenhum.

Arquivo do blog