Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 17, 2007

É esta a imprensa golpista?


 
 

via VEJA on-line: Blog | Reinaldo Azevedo by Reinaldo Azevedo on Jul 17, 2007

A vaia a Lula não foi manchete da Folha de sábado.
Lula se dizendo triste com a vaia é manchete da Folha desta terça.

A vaia a Lula não mereceu nem um miserável título na primeira página do Estadão de sábado.
Lula se dizendo triste com a vaia tem uma chamada na primeira página do Estadão desta terça.

Na sexta-feira, o Jornal Nacional (clique aqui para ver) deu uma reportagem sobre o dia de Lula no Pan que durou 1 minuto e 35 segundos, tempo assim distribuído:
De 0 a 1min05s - Só elogios
De 1min05 a 1min20 - referência à vaia (sim, não se informou que foram seis)
De 1min21 a 1min35 - fala-se apenas de Carlos Arhtur Nuzman abrindo os jogos.
É isto mesmo: no JN , a vaia a Lula ganhou 15 segundos.

No Jornal Nacional de ontem, fez-se referência ao fato. Foi levada ao ar a fala do presidente no rádio. Não há o link com som e imagem, mas o texto é este que segue, em vermelho:

O presidente Lula comentou hoje, no programa semanal de rádio, as vaias que recebeu na cerimônia de abertura do Pan.
"A única coisa que eu particularmente fico triste é que eu fui preparado para uma festa. É como se eu fosse convidado para um aniversário de um amigo, chegasse lá e encontrasse um grupo de pessoas que não queria a minha presença.
"Eu tenho certeza de que não é esse o pensamento do Rio de Janeiro. Depois que terminou o evento, várias pessoas vieram me dizer que tinha sido organizado, que as pessoas tinham recebido convite. A mim não interessa o que aconteceu.
"O importante é que foi uma abertura extraordinária dos Jogos Pan-Americanos. Isso não muda um milímetro o meu comportamento com o Rio de Janeiro", disse o presidente.

Se o que vai acima for lido no limite do compreensível, vai demorar, no mínimo, 30 segundos. Aposto que demorou 40. Vale dizer, o JN dedicou à defesa de Lula quase três vezes o tempo dedicado ao fato em si.

O mais equânime dos veículos foi O Globo. No sábado, deu no alto da primeira página (e não era a manchete, é bom destacar): "Emoção, Carnaval e vaias na festa do Pan". Na edição desta terça, na manchete: "Vaias a Lula abrem guerra entre governo e oposição". Impossível ser mais neutro.

Golpista?
Acima, vai um pequeno flagrante da mídia que o governo federal considera "golpista" e "anti-Lula", acusação endossada com a pressurosa ajuda de alguns anões morais sustentados com o leite de pata das estatais e de órgãos oficiais; que batem a carteira do estado brasileiro para financiar seus mirabolantes projetos de salvação nacional; que vendem a preço de ouro o adesismo, o puxa-saquismo, o descaramento, a sem-vergonhice, a vigarice.

Resta mais do que evidente que a chamada grande imprensa o que fez foi proteger Lula de si mesmo. A vaia, com efeito, foi de tal sorte surpreendente, que ninguém sabia o que fazer com ela. Um ou outro chegaram até a decretar que ela não tem a menor importância. Se fosse aplauso, suponho, não faria diferença.

Mas, sabemos, Lula e o Planalto ainda não estão contentes. Se veículos que eles chamam comerciais são, assim, tão comedidos e, não obstante, desagradam, imaginem o que não tende a ser a TV do ministro Franklin Martins. E observem que o que vai acima é o comportamento da imprensa "suspeita". Imaginem o que não fizeram as TVs, sites, portais e blogs dos amigos.

Meu bisavô tinha uma frase, dita em italiano, que não vou reproduzir porque está mais para o siciliano do que para florentino, que pode ser adaptada mais ou menos assim a um português de gosto também duvidoso: "Quanto mais você se abaixa, mais o traseiro aparece". É evidente: quanto mais a grande imprensa ceder às pressões oficiais e tentar demonstrar que "nada tem contra Lula" -- e não tem mesmo --, mais lhe será exigido, porque o padrão de comparação será o que oferecem os acólitos, as concubinas, os incestuosos, os anões, os pidões, os venais, os paguem-que-a-gente-publica.

A Al Qaeda eletrônica do petismo funcionou como nunca. O Globo informa nesta terça que Marcos Lula da Silva, 36 anos, filho mais velho do presidente, diz em seu blog que a vaia foi planejada na Prefeitura do Rio; que há mais de um mês se comentava o assunto -- pô, e o pai dele não fez nada? --; que, atenção!, eram 70 as pessoas encarregadas de puxar o protesto, distribuídas em pontos estratégicos do estádio. Setenta? Num lugar onde cabem 90 mil? O que é isso, companheiro? Só de convidados do governo federal, havia lá 20 vezes mais gente. Vocês já foram a um estádio de futebol? Já tentaram, sei lá, puxar algum coro por conta própria? O rapaz é identificado como "psicólogo, estudante de direito e empresário". Também ele, é? Nunca antes nestepaiz um operário teve tantos filhos "empresários"... O que ele fabrica ou vende? Delírios?

Não é irrelevante
Ontem, comentando a ação de Lula para tirar do ar a propaganda da Peugeot, afirmei que as reiteradas investidas do petismo contra a liberdade de expressão, ainda que mal-sucedidas, não são irrelevantes. Recua-se sempre um pouco. O mesmo vale para a pressão descarada que partido e governo exercem sobre a imprensa: algum constrangimento há.

Quem conhece jornalismo por dentro sabe do que falo; quem não conhece fica então sabendo. Sempre há aquele ou aquela para dizer: "Pô, gente, não podemos ignorar que há um debate: a vaia foi manipulada ou não? Temos de responder isso." Debate? A acusação de manipulação, quando muito, deveria merecer a referência jocosa que merecem as teorias conspiratórias. Afinal de contas, não dá para sair apurando toda pauta que o PT põe na praça para circular. E sabemos que essa gente não tem limites. Se preciso, inventa que a Globo deu pouco destaque ao acidente da Gol só para privilegiar a foto do dossiê fajuto e prejudicar Lula. Como se uma coisa minimizasse ou contaminasse a importância da outra. É a versão "Tapa na Pantera" do jornalismo.

Lula deveria estar doidinho para quebrar o protocolo. Estádio, milhares de pessoas, a festa... Tenho certeza: já tinha feito download de Schopenhauer e Dercy Gonçalves e se preparava para atuar. Foi pra lá na expectativa da embaixadinha. Se tocassem Brasileirinho, era capaz de sair dando piruetas. Mas sua poesia se desarrumou toda. Seus únicos adversários, naquela noite, foram as pessoas presentes ao Maracanã. A imprensa, como a gente vê, o protegeu. Certamente não tanto quanto a sua vaidade cobrava.

 
 

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