É falta de planejamento. Os contratempos do chamado “apagão aéreo” têm origem neste vício grave que assola nosso país desde os tempos de el-rei. Não adianta vociferar contra a ausência de investimentos e o número insuficiente de controladores. Culpar os fenômenos atmosféricos é postura risível, pois o aeroporto de Chicago, por exemplo, funciona com neve e visibilidade zero. Este clima de esculhambação reinante que caracteriza a incompetência do estado em todos os escalões advém desta deficiência, e podem apostar: é falta de planejamento.
Ficamos pasmos diante desses pacotes de asneiras anunciados pela cúpula da ineficácia nacional: os dispendiosos aviões reservas que resultam em aumento dos preços das passagens; a impensável redução da malha, em face do crescimento da demanda; ou a inoportuna realocação dos vôos, sabendo-se que os pontos focais estão na região sudeste. E ninguém duvide de que as soluções dadas à crise em nossa aviação serão paliativas e efêmeras. A improvisação, o “jeitinho”, talvez seja o maior talento brasílico, por ser fruto da calejada experiência do subdesenvolvimento; este, sim, não se improvisa, é obra de séculos.
Será inútil apenas investir em remodelação de terminais e pistas ou na aquisição de equipamentos sofisticados de última geração. O problema é estrutural, e a solução exige, sobretudo, uma radical mudança de mentalidade.
O problema da inexistência de um planejamento de alto nível — tenhamos consciência disso — tornou-se o ponto de estrangulamento mais estreito do desenvolvimento nacional. Vivemos e sobrevivemos de programas governamentais estéreis que não passam de meros instrumentos da propaganda eleitoral e do populismo explícito. É preciso pensar na continuidade de uma abordagem sistêmica, isto é, em algo que funcione e progrida mesmo que o presidente da vez seja uma besta colossal.
Carecemos de uma grande estratégia, cíclica e flexível, conhecida dos cidadãos, divulgada nas escolas, dissecada nas universidades, delineada sem motivações ideológicas, voltada para os grandes objetivos nacionais permanentes e fortuitos, que atue como base orientadora e uniforme para os demais segmentos setoriais de todas as expressões de nosso desenvolvimento, independentemente da sigla e do matiz do ocupante do Planalto.
O Brasil precisa planejar com abrangência, com antecedência e, constantemente, controlar e conduzir a ação planejada em todas as contingências possíveis e imagináveis, com base em objetivos direcionados para as áreas de atuação das quais dependa a qualidade do nosso futuro num horizonte de, pelo menos, três décadas. Isto é possível. Sabemos que as nações desenvolvidas agem dessa forma; talvez por isso sejam desenvolvidas. A existência de uma grande estratégia bem concebida, à luz das reais potencialidades e de objetivos consensualmente definidos, assinala a principal diferença entre sociedades organizadas e agrupamentos caóticos.
Nossa insuficiência de organização funcional deve-se, talvez, aos aspectos contraditórios de uma personalidade brasileira ainda não suficientemente amadurecida. Elegemos e nomeamos para o poder político um bando de toupeiras que sequer têm capacidade mental para compreender a correta acepção de estratégia, aqui entendida como “preparo e aplicação de poder”. Falta-nos a atitude de uma grande nação.
Um país bem-sucedido, à luz de cenários prospectivos, segue à risca planejamentos setoriais resultantes de uma grande estratégia que cinge as necessidades e atividades essenciais da nação: defesa, educação, saúde, transportes etc., salvo pequenos ajustes de percurso provocados pelo imponderável. As cabeças que regem os diversos degraus do organograma governamental sabem exatamente o que devem fazer, como fazer e quando fazer. Entra governo, sai governo, e a rotina permanece igual. País sério só não planeja a economia; este é um erro privativo dos socialistas. Por isso, no Brasil, a iminência da catástrofe é a perspectiva do nosso dia-a-dia.