A política da intensificação do uso de energia solar para aquecimento da água em São Paulo está sendo aplaudida por ONGs, acadêmicos e ambientalistas. Mas aponta para problemas que exigem solução.
O prefeito paulistano, Gilberto Kassab, sancionou, dia 4, a lei que obriga instalação de sistema de aquecimento de água por energia solar nas novas edificações comerciais, industriais e residenciais com mais de três banheiros. A expectativa é que a decisão seja copiada por outros municípios.
Um dos mais graves problemas a enfrentar é o provável aumento do consumo de água, produto cada vez mais escasso. Explica-se: a água presa nos dutos entre o reservatório de água quente (boiler) e o terminal tende a perder calor. Isso leva o consumidor a manter a torneira aberta até que a água quente chegue. Quanto mais alto for o edifício ou quanto mais distante do reservatório estiver o chuveiro, maior tende a ser o desperdício.
Em Belo Horizonte, onde o uso de energia solar é mais difundido, o problema da “espera pela água quente” está sendo contornado com a instalação de um anel de circulação. O equipamento devolve a água esfriada ao início do sistema para que seja reaquecida. “Só se gasta mais água se o projeto não for bem-feito”, explica Carlos Faria, diretor-executivo do Departamento Nacional de Aquecimento Solar, da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Dasol-Abrava).
Não é só isso. Como adverte o vice-presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi), Cláudio Bernardes, a tendência é exigir que os edifícios novos tenham um sistema capaz de medir o consumo individual de água. Nessas condições, o sistema central de aquecimento solar exigiria dois medidores para cada apartamento, o que deve encarecer o projeto.
Faria não vê problema. “No resto do mundo, os edifícios que adotam a medição individualizada do consumo em parceria com a energia solar dispõem de dois medidores por habitação. Por que aqui teria de ser diferente?”
Para que haja aproveitamento adequado da água quente, toda a canalização de cobre, alumínio ou um PVC térmico tem de ser isolada. São materiais mais caros do que os dutos comuns, o que contribui para o aumento de custos de instalação, além de exigir um segundo encanamento para água fria.
Há, ainda, a necessidade de adotar um sistema adicional de energia (elétrico ou a gás), pois no inverno ou em dias nublados, apesar de funcionar como estufa, o equipamento pode não aquecer a água o suficiente.
Por falar em custos, Carlos Faria garante que o investimento em um sistema desses traz retorno do capital em dois a cinco anos, apenas com economia de energia. O aquecimento por energia elétrica é responsável, em média, por 25% da conta de luz de um imóvel. “A rigor, o sistema é mais barato do que uma geladeira e está projetado para ter durabilidade média de 10 a 20 anos.”