Quarta-feira será a primeira decisão dos juros depois da trapalhada produzida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no fim de junho, quando fixou uma espécie de meta paralela de inflação em 2008 e 2009.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, nega que o CMN tenha decidido essa anomalia. E mais: negou, em várias entrevistas, que o Banco Central recebeu mandato para perseguir inflação abaixo de 4,5%. “O Banco Central tem de mirar o centro da meta” - insistiu dia 11. Assim, como a inflação corrente está ao redor dos 3,5% ao ano, ficou a impressão de que o presidente do CMN, que é o próprio ministro da Fazenda, está exigindo que o Banco Central produza inflação.
Mantega parece desconsiderar o que assina. Está lá, preto no branco, no voto aprovado por unanimidade pelo CMN: “A meta de 4,5% não significa que, se as condições macroeconômicas assim indicarem, o Banco Central não possa perseguir objetivo de inflação ainda mais reduzida.”
Ou seja, ao contrário do que tem sustentado verbalmente o ministro da Fazenda, a decisão do CMN, que tem força de decreto, autoriza, sim, o Banco Central a perseguir um objetivo de inflação abaixo de 4,5% (até 2,5%) e não tem de mirar obrigatoriamente os 4,5%.
A falta de coerência entre o que o ministro assinou e o que depois sustentou parece ter deixado seqüelas no mercado, que tende a ver alguma vacilação no governo, representado pelo CMN, e no que eventualmente possa decidir depois o Copom do Banco Central.
Em algum momento, o Banco Central deverá vir a público para explicitar que meta, entre 2,5% e 4,5%, e em que período, vai perseguir na condução da política de juros, de maneira a não produzir mais inflação.
Assim postas as preliminares, qual deverá ser a decisão do Copom nesta quarta-feira?
Apenas para tirar poeira da memória, na última reunião, de 6 de junho, a decisão foi derrubar os juros não mais em 0,25 ponto porcentual, como acontecera nas três reuniões anteriores, mas em 0,5 ponto, para 12% ao ano. Não houve unanimidade. Dois entre os sete votos optaram por um corte de 0,25 ponto. Mas prevaleceu o argumento de que a queda do dólar no câmbio interno estava ajudando a manter a inflação sob controle, graças à maior entrada de produtos importados de baixo preço.
Nesta quarta-feira, os diretores mais conservadores do Banco Central podem repisar os dois argumentos evocados para justificar corte menor dos juros: o de que ainda há combustível monetário a produzir efeito sobre o mercado; e o de que “a demanda interna está robusta”, a produção está aquecida e, nessas condições, há risco de se produzir inflação de demanda que teria de ser combatida já, por meio de cortes mais baixos de juros.
No entanto, devem falar mais alto outros três argumentos, desta vez, a favor de um corte maior, de 0,5 ponto: (1) para melhor resultado do gerenciamento das expectativas, em vez de desenhar uma lâmina de serrote na curva dos juros e voltar outra vez ao corte de 0,25 ponto, convém manter coerência com a decisão da reunião de junho e cravar 0,5 ponto; (2) que, de lá para cá, se intensificou o fator determinante da decisão anterior, ou seja, o recuo do dólar no câmbio interno; e, finalmente, (3) que a inflação sob controle dispensa parcimônia na condução da sanfona monetária. (Apenas para quem está chegando agora, “parcimônia” é o jargão do Copom para cortes menores de juros). A conferir.