Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 14, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS



augusto@jb.com.br
Três retratos do Brasil

O presidente da República confere furtivamente o texto curto, digitado com letras grandes no pedaço de papel que segura, com a discrição possível, na mão esquerda. A direita já escreveu num quadro duas palavra: "Parabéns Rio". Assim mesmo, sem a escala obrigatória na vírgula intermediária, como registra a foto que ilustrou a primeira página do Estadão.


As palavras rabiscadas no cargo sugerem a abertura de uma mensagem de cumprimentos à cidade abençoada pelo Cristo Redentor, agora oficialmente incorporado à lista das sete maravilhas do mundo moderno. E informa que Lula não sabe escrever nem quando cola. A vírgula estava no papel. Foi sumariamente revogada pelo homem que acha leitura pior que exercício em esteira.

Lula passou por cima daquele sinalzinho com a naturalidade de quem vive atropelando o idioma, sem prestar socorros à vítima. É mais que a foto de um presidente que acha coisa de elitista escrever direito. É o retrato de um Brasil que, depois de ter abolido o pecado da ignorância, celebra a hegemonia dos medíocres.

Essa imagem haverá de ilustrar, nos livros de História do Brasil, o capítulo destinado a contar como foi a travessia da Era da Mediocridade. Outras duas cenas - uma das quais protagonizada, há quase três anos, também pela estrela do elenco - ajudarão a visualizar estes tempos penosos.

Numa tarde de 2004, Lula estava em Tucuruí, no Pará, para estrelar a cerimônia de inauguração de três turbinas. No centro da mesa das autoridades, desembrulhou e engoliu um bombom de cupuaçu. Gostou. Mas o rosto risonho não demorou a ser substituído pela fisionomia aflita.

O presidente entendeu que estava com um problema na mão esquerda: a embalagem, que amassara até reduzi-la a uma bolinha de papel. Como livrar-se daquilo? A manobra executada por Lula avisa que até em momentos de grossura explícita deve ser observada a "liturgia do cargo",

Sentado à esquerda do então governador Simão Jatene, Lula passou o papel para a mão direita, com a fisionomia beatífica de quem ainda degustava o cupuaçu. Em seguida, estendeu o braço atrás da cadeira ocupada por Jatene. Então, fingindo-se absorvido por reflexões sobre dramáticos problemas nacionais, deixou o papel cair no chão.

Teria sido uma operação exemplar se algum tipo de blindagem impedisse a visão das pernas da turma - e de tudo o que se passava sob o tampo da mesa. A seqüência de fotos foi mais que a prova de que, sem testemunhas, Lula é capaz de jogar cascas de banana na calçada. Foi o retrato de um Brasil que capitulara à ofensiva do primitivismo.

A terceira cena desoladora ficou por conta do deputado Antonio Palocci. Nas imagens transmitidas pela TV Globo, o ministro que estuprava contas bancárias aparece furando a fila no saguão lotado do aeroporto. É mais que outra evidência de que até caipiras com cara de sonso aprendem a levar vantagem em tudo. É o retrato de um país que se julga esperto, mas é apenas cafajeste.




Cabôco Perguntadô

Afundada no mar de textos sobre o crescente atrevimento da bandidagem, o Cabôco localizou uma notícia que o deixou excitado. Nos últimos anos, o Supremo Tribunal Federal absolveu todos os acusados em ações judiciais examinadas pelas 11 togas. Só havia inocentes.

Cada vez mais apreensivo com tiroteios e balas perdidas, o Cabôco pergunta o que deve fazer para virar porteiro do STF. Para recuperar o sossego, quer um emprego no único lugar do Brasil onde não existem bandidos.


Uma espécie em mutação

Em São Paulo, atendendo a instruções do governador José Serra, a bancada majoritária na Assembléia Legislativa, comandada pelo PSDB, enterra qualquer tentativa de exumar, com a instalação de CPIs, cadáveres em decomposição nos armários tucanos. E também se recusa a investigar escândalos recentes se protagonizados por tucanos. Foi assim com o deputado Mauro Bragatto.

O PSDB lembra o PT já faz tempo. Só falta aprender a lidar com gado para credenciar-se a substituir o PMDB na grande aliança federal.


O cinismo vai à estratosfera

Decididos a lucrar com o apagão, donos de empresas improvisaram uma versão aérea das jardineiras de antigamente. Hoje os aviões só partem depois de lotados, multiplicam escalas que atrasam os vôos mas aceleram o ritmo da prosperidade, aumentam preços quando há mais passageiros que bilhetes, negam-se a pagar indenizações. Acham pouco. Agora, querem que o governo compense em dinheiro "prejuízos causados pelo apagão". Merecem ser condenados a um ano de reuniões diárias com o ministro Waldir Pires.


O suplente paraguaio

O senador Sibá Machado, substituto da ministra Marina Silva, mostrou do que um suplente é capaz ao propor a troca dos exames vestibulares pelo sorteio das vagas. Wellington Salgado, substituto do ministro Hélio Costa, mostrou do que um suplente é capaz ao aparecer no Senado com aquele cabelo. Gim Argello, substituto de Joaquim Roriz, só precisou do nome para desmoralizar de vez a figura do suplente.

Um Gim Argello é demais até para este Senado. Melhor transferi-lo para um rótulo de bebida falsificada.



Yolhesman Crisbelles

A taça vai para o senador sergipano Almeida Lima, alferes da tropa de choque de Renan Calheiros, que conquistou o bicampeonato com a mensagem com a qual tentou recusar o prêmio concedido pela coluna na semana passada. Trecho:

O povo está de saco cheio com bandalheiras praticadas por políticos delinqüentes. Alegra-me a autoridade moral em poder afirmar que não contribuí, nem minimamente, com esse descalabro.

Parabéns, senador.

15 / 07 / 2007

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