Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 05, 2007

UM GOVERNO FRACO por Augusto de Franco

Todo mundo pensa que o governo Lula é forte. Mas não é. É fraco. Se fosse forte não precisaria passar pelo vexame de ter que dar um ministério – para quem mesmo? – para Geddel.

O ministério de Lula é fraco porque seu governo é fraco. Até os empresários que têm mais juízo andaram fugindo dele como o diabo da cruz. Restou a Lula compô-lo com rebotalhos, justificando sua bela obra como "reforma" ministerial para ampliar as alianças em nome da governabilidade. O PMDB se aproveitou da situação, esperando tirar vantagens, não certamente da força do governo, mas da sua fraqueza.

Outra coisa são as intenções maquiavélicas do PT, que acalenta secretamente a idéia sórdida de roubar as bases do maior partido fisiológico do Brasil, descartando depois os seus próceres. Se as raposas peemedebistas dormirem no ponto, serão traídas por Lula e acordarão (como Jobim ou como Aldo) na rua da amargura. Ora, um governo que tem que proceder assim, descumprindo acordos, enganando continuamente seus apoiadores e aliados, mordendo e assoprando, distribuindo depois prebendas para compensar os magoados, enquanto espera a melhor oportunidade para apunhalá-los pelas costas, só pode ser um governo fraco.

Se o governo Lula não fosse fraco não precisaria ser tão corrupto. A sua corrupção – uma inédita forma de "corrupção de Estado", ao contrário da corrupção endêmica da nossa política tradicional que o lulopetismo apenas mimetizou – é um instrumento adicional de política, como vimos no caso do mensalão: não conseguindo articular forças pelo exercício legal da "arte da política", o governo resolveu comprar maioria, sendo obrigado a enveredar para o crime. Quem poderia exigir uma prova maior de fraqueza (política) do que essa?

Se fosse um governo forte não temeria tanto esses excelentes instrumentos contemporâneos que são as agências reguladoras, a ponto de esvaziá-las e aparelhá-las com indicações políticas. Saberia comandar a máquina administrativa sem a necessidade de ter de infestá-la de militantes partidários e sindicalistas ineptos. Não se veria na circunstância de ter de agradar exageradamente os banqueiros, indo contra a opinião de suas próprias bases. Não se desgastaria tentando controlar politicamente a Polícia Federal (como vimos no caso do falso-dossiê, aliás, até agora, sem solução). Nem precisaria ter colocado no Ministério da Justiça um criminalista...

Se não fosse um governo fraco não precisaria ter de transformar as populações em clientela eleitoral, comprando-as com o "bolsa-esmola", promovendo os seus pobres à categoria de pensionistas permanentes do Estado e, com isso, anulando seu protagonismo e desestimulando o seu empreendedorismo em prol do desenvolvimento humano e social endógeno.

Como todo demagogo, Lula – o chefe de um governo fraco – é pessoalmente fraco: não em termos de liderança e popularidade, mas de falta de visão, de propostas e, sobretudo, de grandeza para promover o sucesso alheio. Se perder o permanente palanque autopromocional, o mito criado em torno de sua figura tende a perder força.

Isso deveria indicar às oposições – se tivessem mais inteligência – uma nova linha tática que consiste em não levar muito a sério o nosso presidente e, de preferência, ignorá-lo, não citá-lo, não noticiá-lo, fazer ouvidos moucos às suas falas, convites e provocações. Sem o oxigênio da platéia seu ego definha.

Todo ego é um complexo, mas o complexo particular de Lula é o de ser uma espécie de "Pelé" dos estadistas do terceiro mundo. Ocorre que enquanto Pelé foi um craque, reconhecido universalmente pela habilidade com a bola, Lula – um homem que tem lá suas qualidades, mas que, como estamos vendo, não são tantas assim em termos substantivos – só pode sobressair na paisagem por meio do discurso manipulador, da lábia jactante e da esperteza.

Vejam agora um exemplo eloqüente dessa capacidade mistificadora do nosso presidente. Lula acaba de cometer uma daquelas suas mensagens de rádio onde – nem tão sutilmente assim – coloca a culpa pelo chamado "apagão aéreo" nos controladores de vôo. É claro que os motivos do caos nos aeroportos e da crise geral na aviação brasileira são vários e estão ligados à incompetência administrativa do governo, à corrupção na Infraero, ao aparelhamento e esvaziamento da ANAC etc. Mas agora nosso líder achou um culpado: os sargentos da Aeronáutica. E cinicamente reconhece o direito de greve e outras banalidades para em seguida lamentar – como se não fosse ele o responsável pelo governo – que os controladores estejam prejudicando a população... Trata-se, evidentemente, de uma prova do caráter do homem que nos governa.

De qualquer modo – nem que seja para traí-los mais adiante (o que fatalmente ocorrerá) – ao aceitar todas as exigências dos controladores, Lula deu a prova definitiva de que seu governo é mesmo fraco. Se não fosse fraco não cederia assim tão facilmente às vontades de duas ou três dezenas de sargentos amotinados.

Todavia, os que querem tirar proveito da fraqueza do governo, deveriam prestar atenção ao que deles se fala na calada da noite, naqueles subterrâneos palacianos onde o governo fraco se encontra com o PT e ambos se misturam, com ímpeto incestuoso, numa massa disforme e indivisível, para tratar sempre de um mesmo e único assunto: de como poderão ficar mais fortes às custas dos otários. Os basbaques que pensam estarem usando Lula, esses sim têm a temer, mais do que os que se postam na firme oposição ao seu governo. Se ficarem dependendo dele, sarneys, jaderes, renans, temeres e geddéis terminarão todos na sarjeta. É só esperar para ver.

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