PANORAMA POLÍTICO |
O Globo |
4/4/2007 |
O mais delicado episódio opondo as Forças Armadas e um presidente civil depois da redemocratização deu um susto em todo mundo e pôs o Congresso em estado de alerta. O presidente Lula obteve ontem a distensão, para usar um termo militar, devolvendo à Aeronáutica toda a autoridade sobre o tráfego aéreo, o enquadramento disciplinar dos controladores rebeldes e a desmilitarização da aviação civil. Vitória da democracia, que passou sem arranhão por este teste. Mas, superada, a crise não está. Há muitos problemas para serem resolvidos e há pela frente uma delicada questão política e conexa, a instalação da CPI da crise aérea. Na noite de anteontem, líderes governistas e da oposição não escondiam a apreensão quando chegaram à casa do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, que os chamara para falar da gravidade da situação. Pela manhã, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, chamara-o para uma conversa. Lá chegando, encontrou o líder da minoria, Julio Redecker (PSDB). Ao chamar um de cada lado para expor a situação, o brigadeiro teve certamente a intenção de mostrar-lhes que se tratava de uma questão de Estado, não meramente de governo. Chinaglia tinha, portanto, muito a contar aos líderes, avisando que era grave a crise. Ali foi ensaiada a manifestação de total solidariedade às decisões do presidente Lula, que passara o dia atuando como bombeiro do incêndio que ele mesmo criara, ao desautorizar a prisão dos controladores para garantir, como explicou aos militares, a retomada dos vôos e o atendimento dos passageiros. Ontem, na reunião do conselho político, o presidente explicou aos líderes e presidentes de partidos aliados o ocorrido e as providências que tomara "para restabelecer a disciplina e a hierarquia". Basicamente, a revogação do acordo feito com os controladores, agora entregues à sanha de uma cúpula da Aeronáutica afrontada e ferida. Estes, sim, vão se estrepar. Lula os acusou de terem esperado que ele embarcasse para deflagrarem a greve. Diante da emergência, sem ter alternativa, autorizou a negociação para garantir o fluxo interrompido dos aviões. Esta explicação ele deu também aos militares: não tivera a intenção de desautorizar o comandante Saito. A verdade é que ele parece não ter medido as conseqüências da decisão de mandar um ministro civil negociar com sargentos rebelados. É grave que nenhum assessor o tenha advertido. Mas ontem o susto já estava bem dissipado entre os políticos e o ambiente era melhor entre os militares, como se pôde notar na posse dos novos oficiais generais das três armas, no Planalto. Ali, de modo muito transversal, Lula voltou ao assunto, dizendo, em seu discurso, que a cerimônia o fazia "refletir profundamente" sobre sua grande responsabilidade como comandante supremo das Forças Armadas. Com carta branca, a Aeronáutica tem agora que garantir a normalidade na aviação civil. Já os políticos começam a se preocupar com a inevitável instalação de uma CPI que continua tocando os nervos da Aeronáutica. Imagine o leitor se a oposição resolve convocar os controladores e até mesmo algum brigadeiro? - Agora que a crise mostrou sua extensão e complexidade, está claro que uma CPI atiçará o fogo, funcionará como combustível - diz o líder do PT, Luiz Sérgio. Embora Chinaglia tenha se recusado a instalar a CPI antes da decisão do STF, o PT já conversa com setores do PSDB e do PPS sobre uma "condução responsável". - O momento é delicado e não vamos pôr lenha na fogueira - diz o líder da minoria, Redecker, do PSDB. O Democratas (ex-PFL) segue em linha dura, obstruindo as votações para forçar a instalação. - Neste momento, só o Democratas faz oposição para valer, e responde à sociedade indignada brigando pela instalação da CPI. Não a queremos para produzir escândalo, mas as soluções que o governo, por incompetência e negligência, até agora não apresentou - diz ACM Neto. Mas isso será outro capítulo. Não sejamos paranóicos, não invoquemos as bruxas e acreditemos na coincidência: a greve dos controladores que gerou a crise militar ocorreu na virada do dia 30 para 31 de março, aniversário do golpe de 1964. Com muita discrição, dois políticos atuaram intensamente como bombeiros, nestas últimas horas, valendo-se do bom trânsito de que dispõem junto aos militares: os deputados José Genoino (PT) e Aldo Rebelo (PCdoB). O Brasil criou o Ministério da Defesa sem ter produzido quadros civis qualificados para ocupá-lo. Estes dois deputados têm os predicados exigidos pelo cargo, inclusive o apreço dos militares. Mas cada qual por seu lado tem problemas políticos que os excluem da lista de eventuais sucessores de Waldir Pires na Defesa. O nome mais falado ontem era o do ex-ministro Nelson Jobim. COMO a paranóia está solta, havia governistas falando ontem sobre rumores de que houve reuniões entre deputados do PSOL e do Democratas com líderes dos controladores de vôo, para insuflá-los a produzir a crise. Mas havia também, na oposição, quem suspeitasse que Lula deixou a crise chegar aonde chegou para poder fazer, na marra, a desmilitarização da aviação civil, que a Aeronáutica nunca aceitou. Teria errado o cálculo, não imaginando que os controladores iriam tão longe, criando um foco de insubordinação. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, abril 04, 2007
Tereza Cruvinel - Que susto!
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