Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 03, 2007

Seis meses, 155 mortes. Agora é Lula


Mais de seis meses. Exatos 185 dias, um atrás do outro. Esse é o tempo que passou desde que o vôo Gol 1907 se chocou com o jato Legacy nos céus do Brasil, matando 154 pessoas inocentes.

Mais de seis meses, 185 dias, sem que o governo tomasse uma atitude coerente e encaminhasse minimamente a gestão da crise área. Crise que reduziu passageiros a indigentes esgotados, famintos e irritados jogados em saguões abarrotados de aeroportos.

Os feriados de fim de ano e vários fins de semana se passaram com milhares de pessoas em meio a esse caos. Dia após dia, semana atrás de semana. Nada foi feito.

No sábado passado, mais um morto por conta da incompetência do governo: um sujeito de 54 anos morreu após passar mal no aeroporto de Curitiba. Morreu depois de esperar mais de 12 horas pelo seu vôo madrugada adentro. Quem é o responsável por essa morte?

Mais de seis meses, 185 dias. Foi necessário que os próprios controladores de vôo forçassem uma solução radical --greve de fome e paralisação na semana passada-- para que o governo agisse. E agiu mal.

Atropelou o comando da Aeronáutica e, bem ao estilo sindicalismo de porta de fábrica, fechou um acordo em cima dos joelhos com os controladores. Sem a anuência dos oficiais. Desautorizada e humilhada, a cúpula da FAB lavou as mãos. Abandonou o comando dos Cindactas aos próprios controladores e caiu fora.

Hoje, a situação é a seguinte: não existe um órgão que comanda formalmente os controladores de vôo no Brasil. Quem responsabilizar em caso de um novo acidente?

Mais de seis meses, 185 dias. Só então Lula, de Washington, para onde voou e retornou no horário e em segurança em seu jato presidencial, determinou que a crise do setor aéreo brasileiro seja resolvida "definitivamente" em três dias. Em três dias, mais de seis meses, 185 dias depois.

Já era tempo. Um novo acidente ou uma nova morte terá, a partir de agora, um responsável: Lula.
Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Escreve semanalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.

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