Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 07, 2007

RUY CASTRO Odor baunilha

RIO DE JANEIRO - Numa idade em que devia estar brincando de boneca ou de médico, a francesa Joana D'Arc botava os ingleses para correr, numa daquelas guerras entre eles no século 15. Até que foi capturada e levada à fogueira em Rouen, em 1431. Tinha 19 anos.
Os quase 500 anos seguintes foram de oblívio. E, então, no século 20, a glória de Joana começou. Virou santa em 1920, peça de Bernard Shaw em 1923 e filme do dinamarquês Dreyer em 1928. Mas, para o vulgo, nada superou o fato de ter sido vivida por Ingrid Bergman num filme de 1948. "Joana D'Arc" era assim-assim, mas, ali, ela ganhou o rosto e a majestade de Ingrid.
Agora, de repente, o vento virou. Em 1999, um antiquário parisiense descobriu uma armadura com tudo para ser a de Joana. Era bem feminina, gravada com rosetas e chuleada com florões. Tinha três amassos nos lugares em que ela fora golpeada pelos ingleses. O laboratório confirmou que era uma roupa do século 15. E muito parecida com uma que Joana usava num retrato pintado logo depois de sua morte. Só tinha um porém. Era uma armadura manequim 38. E, a de Ingrid, com seu quase 1,80 m, era 44.
Quer dizer que Joana era uma tampinha de 1,50 m? Parece, mas isso não constitui desdouro -afinal, Carmen Miranda também tinha apenas 1,51 m. O problema é que muitos de nós, ao pensar em Joana, nos acostumamos a visualizar Ingrid.
E, nesta semana, mais um golpe. Revelou-se em Paris que os ossos e as cinzas atribuídos a Joana desde 1867, reconhecidos pela igreja, não eram dela, mas de uma múmia egípcia e seu gato. Alguém os farejou cientificamente e sentiu neles odor de baunilha, típico de um corpo que se decompôs, e não de um que foi queimado. Não se pode mais nem gozar uma merecida posteridade. A ciência mete o nariz em tudo.

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