BRASÍLIA - Lula atrasou-se duas horas na última quarta-feira para o almoço com o presidente do Equador, Rafael Correa. O evento começaria às 13h. O petista só apareceu às 15h. Ao final do encontro, descontraído, recomendou aos jornalistas que ficassem "tranquilis" (pronunciou "tran-ki-lis").
O presidente é o brasileiro com mais votos no país. Foi reeleito em outubro passado com o apoio de 58.295.042 eleitores. Lula deve saber o que faz. Em "time que está ganhando não se mexe", diria ele no seu usual jargão futebolístico.
Vigora entre os petistas lulistas uma tese segundo a qual, não bastasse toda a popularidade, Lula seria também um homem de sorte além da conta. Até as conseqüências de seus erros ou omissões são mais leves do que foram para os antecessores do PT no Planalto.
O apagão elétrico de FHC castigou todos os eleitores, de pobres a ricos. Um caos. O apagão aéreo de Lula só atinge diretamente a uma parcela reduzida da população -os passageiros de avião. Por mais que a classe média tenha entrado nesse clube, freqüentar aeroporto ainda é quase proibitivo para o eleitorado do Bolsa Família.
Presidente mais popular desde a volta do Brasil à democracia, Lula vai levando. Fala como seu eleitorado gosta e entende. Atrasa compromissos com gente importante. Tem um estilo de governar.
O saldo dessa auto-suficiência só será conhecido mais adiante. É difícil imaginar algum presidente no futuro com tanto poder como o delegado hoje a Lula. Para quem olha de perto, a impressão maior é a de oportunidades perdidas em série. O petista reforça alguns dos piores valores oferecidos pelo Brasil ao mundo -atrasos contumazes e pouco apreço pela eficiência administrativa.
Certos valores só podem ser promovidos por quem os têm. Lula não se importa. Está "tranquilis".
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