Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 13, 2007

Míriam Leitão - China no Rio



PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
13/4/2007

Não tem jeito: a China é um tema que não sai da pauta de economia - seja pelas boas ou más notícias. Desta vez, as informações vêm de um levantamento da Firjan em parceria com a CNI. Eles identificaram que mais da metade das empresas pesquisadas no Rio de Janeiro sofre concorrência de produtos chineses no mercado doméstico; assim, 60% diminuíram sua participação nacional. No mercado externo, 23% perderam clientes para produtos feitos na China.

O levantamento foi feito em 21 estados. No Rio de Janeiro, 206 empresas foram ouvidas. A idéia era tentar dimensionar o impacto da China na produção industrial brasileira. E o resultado da pesquisa trouxe notícias não muito boas.

Por um lado, da China têm vindo algumas boas novidades. Segundo lembra a própria nota técnica da Firjan, o crescimento gigantesco do país oriental ajuda o Brasil, pois empurra os preços das commodities que exportamos; barateia os bens de capital e, além disso, patrocina uma maior liquidez internacional.

Mas isso é só um lado da história. O outro, mostra empresas que têm sofrido fortemente com a concorrência chinesa: seja pela mão-de-obra lá com salários muito mais baixos e leis trabalhistas mais flexíveis, pelos poucos tributos ou subsídios, pela pirataria, ou, sobretudo, devido ao câmbio artificialmente controlado. Por causa dele, a concorrência com a China é predatória. Os preços dos produtos chineses são ditados por regras de governo, e não de mercado.

Das 60% que disseram que sua participação no mercado interno caiu com a chegada dos produtos chineses, 14,3% das empresas afirmam que "diminuiu muito". No total do Brasil, segundo a CNI, metade das indústrias sofreu internamente esse baque de queda na participação.

- No Rio, quem mais tem sido prejudicada com a China, segundo identificamos na pesquisa, são as confecções, indústrias de brinquedos e calçados - diz Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan.

- Antes, os chineses traziam produtos ruins, mas agora estão trazendo coisas um pouco melhores e um pouco mais caras. O câmbio não ajuda, o processo tributário não ajuda, a fiscalização nos portos não ajuda. - reclama Victor Misquey, que é dono de uma fábrica de roupas no Rio de Janeiro.

Misquey conta que uma camisa que produz pode chegar a ser oito vezes mais cara que a mesma peça chinesa. Para tentar aumentar sua competitividade, está transferindo boa parte da produção para o interior de Minas. Segundo ele, há um aspecto que garante seu mercado interno que é o fato de os varejistas não poderem ficar inteiramente na mão dos produtores chineses. Porém, quando se trata de exportar, o problema aumenta:

- No ano passado, tinha como meta vender 200 mil camisas para a Argentina e só foram 30 mil - diz.

Segundo a pesquisa, é no mercado doméstico que as empresas do Rio mais sofrem concorrência da China; 53% delas passam por esse desafio, um pouco mais que a média nacional, como mostra o gráfico abaixo. No mercado externo, 45% das indústrias fluminenses ouvidas se dizem expostas à concorrência chinesa, sendo que 5% pararam de exportar. No Rio, 39,2% das companhias importam matéria-prima do país oriental; de acordo com a Firjan, são principalmente empresas de pequeno e médio portes. O número é o dobro das que disseram que compram o produto já finalizado.

Porém, como a China é um fato irrevogável, as empresas brasileiras precisam é estar preparadas. A nota da Firjan afirma que as indústrias fluminenses estão tomando providências: "Enquanto as de pequeno e médio portes recorrem a medidas como diferenciação de marca e lançamento de novos produtos, as de grande porte focam basicamente a redução de custos e o investimento em qualidade e design."

Muitas empresas têm tentado aproveitar o preço baixo das máquinas e equipamentos vindos da China. São 83% dos pesquisados os que dizem que vão aumentar a importação desses itens, 33% afirmam que vão "aumentar muito". Entre o que se consideram máquinas, estão incluídas, por exemplo, as peças para telefonia.

- Das importações da China, a que mais cresce é a de máquinas, sejam as menores ou maiores. E vai continuar crescendo. Elas são 56% do total importado da China pelo Brasil. Mas, por outro lado, máquinas também são o item que a China mais importa. Há uma oportunidade para o Brasil aí - comenta Rodrigo Maciel, executivo do Conselho Empresarial Brasil-China.

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