O Brasil vai crescer mais neste ano que no ano passado e, pelos cálculos do economista José Roberto Mendonça de Barros, o crescimento pode ser de 4,2%. O governo terá vantagem extra: a queda de 6,5 pontos percentuais na taxa de juros dará uma folga de 1,5 ponto percentual do PIB no custo da dívida. Há várias boas notícias, mas ele está convencido de que o país é como uma pessoa que tem os pés em direções opostas. “O pé que está errado é o dos gastos do governo.”
Puxarão o PIB a demanda interna ainda crescente; a construção civil; o crédito, que permanece em expansão.Até o consignado pode continuar crescendo, na opinião dele, pois há novos grupos a serem incorporados.Agora, por exemplo, o dos servidores estaduais de São Paulo.
— No Brasil, as empresas vão melhor que o governo — diz José Roberto Mendonça de Barros.
Capitalizadas e com o impulso cambial, elas estão indo para o exterior como investidoras.
Não apenas grandes empresas, mas também as médias, que começam a comprar insumos fora, depois se instalam em outros países e, de lá, começam a produzir e exportar para terceiros mercados. O dólar dá o empurrão inicial para a saída dessas empresas. E para onde vai o dólar? — Está a caminho do R$ 1,99 — brinca ele.
José Roberto se refere ao fato de que a melhora de todos os indicadores de solvência do Brasil leva inevitavelmente a uma queda do risco-país — o que reduz a cotação do dólar —, além dos outros fatores, como a balança comercial, que, mesmo caindo um pouco, deve terminar o ano com US$ 41 bilhões de superávit.
Se o processo de globalização das empresas brasileiras é desejável, se o investimento no exterior é um fator de fortalecimento das empresas, há um ponto que o preocupa na saída do capital produtivo no nível atual: — O emprego. O Brasil não está criando emprego, e eu não estou vendo muita possibilidade de isso mudar a curto prazo. Já não deveríamos estar, há tanto tempo, com desemprego em torno de 10%. Nos dados do Caged, há três anos, a criação líquida de emprego para mão-de-obra mais qualificada e de salários maiores está caindo. A criação de emprego se dá na faixa até três salários mínimos.
Na expansão da agroenergia, não vê também possibilidade de criação de emprego.
— Toda nova usina começa já mecanizada, sem queima da cana, o que é bom. Mas isso significa que o empresário contratará um número pequeno de trabalhadores.
A economia está se conformando em ser produtora de commodities. José Roberto nunca foi contra isso, mas acha que está na hora de um forte investimento em produtos mais sofisticados.
— Precisamos dar um salto para a economia criativa.
Até na área agrícola, deveríamos estar pensando em melhor aproveitamento de tudo o que produzimos, com o novo conceito da nutricêutica, dos elementos incluídos no produto em si, como a lecitina da soja.
A construção civil está puxando a economia, mas há algumas dúvidas não resolvidas, segundo ele: — Primeiro, que produto estamos oferecendo ao mercado: apenas condomínios verticais fechados por grandes muros para a classe média, como nos Jardins e na Barra? Se for isso, não tem muito espaço para continuar crescendo. Segundo, a falta de liquidez dos imóveis usados impede que haja um mercado realmente dinâmico de compra e venda de ativos.
No caso das empresas de agroenergia, José Roberto acha que o país está em plena transição, mas teme que o processo modernizador não seja tão rápido quanto necessário.
— Há empresas produtoras de álcool que são ainda de origem familiar e mantiveram os velhos hábitos, que não se modernizaram o suficiente. Por outro lado, há o capital externo chegando, há a demanda do exterior e até investimento em produção no exterior. Mas ainda não está clara, para grande parte dos produtores, uma lei do mundo atual: nenhum projeto terá qualquer sucesso no mercado internacional se não for baseado, de partida, em total respeito ao meio ambiente.
O economista, consultor da MB Associados e ex-secretário de Comércio Exterior, acha que, na questão ambiental, o turning point foi o relatório Nicholas Stern.
— Havia preocupação com o aquecimento global.
As pessoas pensavam assim: o mundo vai ficar mais quente no final do século; isso é um problema. Mas Stern pôs a bola no chão quando fez a conta mostrando que era mais caro não fazer nada que fazer alguma coisa agora. Isso mudou a opinião da revista “Economist”, por exemplo.
Ela, de cética, passou a ver o problema com o mesmo raciocínio do seguro: pagar um pouco agora para evitar o sinistro no futuro.
Portanto, o campo brasileiro, que o economista analisa de forma tão detalhada, pode ser um fator de avanço da economia nas perspectivas que se abrem agora, mas somente se os produtores entenderem a dimensão do desafio climático que está posto na agenda econômica mundial.
Há ainda outro obstáculo: a precária infra-estrutura.
— O frete aumentou muito.
O exportador tem que agüentar o custo cambial e o peso do frete em elevação.
O risco de uma carga parada nestes portos é fazer com que o frete acabe ficando mais caro que o produto em si.
O resumo do que diz José Roberto é que o Brasil melhorou, tem alguns excelentes indicadores, as empresas estão bem, o consumo vai continuar a subir, mas ainda não é o momento desejado por todos: — Estamos a quilômetros do crescimento sustentado.
Entrevista:O Estado inteligente
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