Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 13, 2007

Luiz Garcia - Jornadinha de trabalho




O Globo
13/4/2007

A palavra "deputado", ensinam os dicionários, designa pessoa "comissionada para tratar de negócios de outrem". Outrem é você.
Portanto, é importante tomar nota quando deputados federais administram suas obrigações colocando interesses pessoais deles na frente dos seus, prezado outrem.

Está nesse caso o recém-aprovado cancelamento de votações às segundas-feiras na Câmara. Como as sextas-feiras já são dias de escasso ou nenhum rendimento, restam três na magérrima jornada de trabalho de nossos representantes. Mas eles continuarão recebendo seus subsídios integralmente.

Alegam que precisam das sextas-feiras em casa para cuidarem de interesses dos eleitores lá de casa. Seria mais honesto se confessassem que voltam aos estados para zelar por seus próprios interesses junto ao eleitorado. E a este ninguém pergunta onde prefere que fiquem seus eleitos em dias oficialmente úteis. Aqueles nos quais o cidadão eleitor dá duro para valer.

(Quem sabe, está na hora de um movimento de cidadãos pela extinção do seu próprio trabalho regular nas sextas-feiras. Podem alegar que precisam do dia livre para contatos com os eleitos. Vai-se ver, pega.)

Em Brasília, os argumentos a favor da jornada curtinha são patéticos. Por exemplo, o líder do PT, Márcio França, teve a coragem de alegar que os deputados até prefeririam ficar mais tempo em Brasília, "porque se distanciaram da base social (sic) que os pressiona com pedidos". Falta perguntar a essa "base social" quantos dias de trabalho sério gostaria de ter de seus representantes.

Os eleitores talvez tivessem algo a dizer, por exemplo, sobre o fato de que a pauta do plenário da Câmara está trancada por um monte de medidas provisórias. Com a oficialização da semana de três dias, o monte de projetos úteis e urgentes à espera de votação caminhará para dimensões de Everest.

De carona, valeria a pena ouvi-los sobre um debate que está mobilizando os parlamentares: as restrições à contratação de parentes para o serviço público (inclusive nos gabinetes de deputados) devem alcançar o terceiro grau ou ficar no segundo? E parentes podem ganhar empregos em empresas prestadoras de serviços ao Estado?

Dizem por aí que, para garantir a vida boa de tios e sobrinhos no regaço da Grande Mãe, há representantes do povo que se dispõem a suar a camisa em Brasília de domingo a domingo.

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