O quadro favorável para nossa economia tem ocorrido a despeito da inoperância da administração Lula
O MINISTRO da Fazenda, Guido Mantega, certamente seguindo ordens do presidente Lula, jogou a toalha e aderiu ao pensamento econômico do Banco Central. Suas críticas ácidas às políticas monetária e cambial, sabemos agora, eram apenas bravatas no melhor estilo de seu chefe. Com isso, está encerrado o período de desencontros dentro do governo e teremos agora uma maior homogeneidade na condução da política econômica.
Para o bem e para o mal. Claramente o motivo central dessa incrível conversão do antigo desenvolvimentista Mantega foi a constatação de que a economia vai voando em céu de brigadeiro neste início do segundo mandato de Lula.
O presidente da República sabe que sua força com a maioria da população vem exatamente dos resultados na economia e deve ter mandado Mantega se enquadrar. Lula sabe que sua força deriva do crescimento bem maior do que o verificado em seu primeiro mandato, da inflação baixa e estável, do aumento do emprego e da renda, principalmente entre os assalariados que ganham menos de dois salários mínimos, de um verdadeiro carnaval de crédito ao consumo e o dólar a R$ 2.
Gostaria de refletir hoje sobre a natureza da política econômica do governo Lula. Como defini-la seria nosso primeiro desafio. E eu começaria dizendo que existem nela cores muito evidentes de um certo keynesianismo reconstruído. Há um forte estímulo fiscal criado pelos aumentos vigorosos do salário mínimo e da extensão do Bolsa Família.
E aqui um pequeno comentário de natureza teórica. Keynes fez menção a gastos públicos com pirâmides apenas para mostrar que o relevante, em situações de crescimento econômico fraco, é a criação de demanda efetiva. O objetivo a ser perseguido é a criação de renda adicional, por meio de gastos do governo e que se multiplicam em outros gastos de consumo e investimento privados.
No caso do Brasil de hoje, essa renda adicional está sendo criada por meio de maiores salários e transferências sociais nos segmentos de forte propensão a consumir. Essa forma é claramente muito mais eficiente do ponto de vista de aumento da demanda do que as pirâmides de Keynes. Mas isso só foi possível em razão de uma situação nova, criada a partir de meados de 2005: o acúmulo de dólares em nossa balança de pagamentos criada pela incrível demanda chinesa por matérias-primas.
A mudança de sinal em nossas contas externas, para mim o pilar do sucesso da política econômica do governo, provocou uma valorização significativa do real e, ao mesmo tempo, um processo continuado de aumento do coeficiente de importação. A maior abertura da economia teve papel primordial na estabilização da inflação em níveis inferiores ao centro da meta perseguida pelo Banco Central. A combinação virtuosa de segurança em relação à taxa de câmbio e à inflação baixa possibilitou a queda rápida dos juros e um boom de crédito ao consumo. Nesse novo ambiente de crédito e de aumentos reais do salário mínimo e do Bolsa Família, o consumo dos brasileiros passou a crescer a taxas quase chinesas.
Entretanto, para compreender nossa economia neste início do segundo mandato de Lula, é necessário perceber, em toda a sua dimensão, o aparecimento de uma nova dinâmica de oferta de bens no mercado interno. Além do poderoso -e apenas incipiente- canal das contas externas, está ocorrendo uma aceleração dos investimentos em máquinas e instalações, complementando o papel das importações para o aumento da oferta de bens na economia. Tudo isso tem permitido que o aumento do consumo das famílias ocorra sem pressão sobre preços e o tradicional processo de aumento dos juros pelo Banco Central, evitando que o estímulo keynesiano termine rapidamente na forma menos nobre de uma recessão.
O quadro favorável para nossa economia, que se desenha com clareza hoje, é a combinação de todos esses fatores. O que chama a atenção é que tudo isso acontece sem que tenha havido um conhecimento prévio ou nenhuma visão estratégica por parte do governo. Na verdade, tudo isso tem ocorrido a despeito da inoperância da administração Lula, que em algum momento cobrará sua fatura, principalmente por conta da falta de investimento em infra-estrutura.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, abril 06, 2007
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Lula e seu keynesianismo
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
abril
(465)
- Colunas
- Opinião
- REINALDO AZEVEDO MST -Não, eles não existem. Mesmo!
- CELIO BORJA Surto de intolerância
- DANUZA LEÃO Viva o futuro
- JANIO DE FREITAS Rios de dinheiro
- Miriam Leitão O ponto central
- DANIEL PIZA
- Escorregadas de Mantega
- Estados devem ser parte do alívio fiscal?
- O multilateralismo está superado?
- O êxito da agricultura brasileira
- Névoa moral sobre o Judiciário
- FERREIRA GULLAR
- ELIANE CANTANHÊDE
- CLÓVIS ROSSI
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Um ministério para Carlinhos
- DORA KRAMER Defender o indefensável
- AUGUSTO NUNES Sete Dias
- REINALDO AZEVEDO Autorias 1 – Quem escreveu o quê
- Miriam Leitão À moda da casa
- FERNANDO GABEIRA Um bagre no colo
- RUY CASTRO Emoções assassinas
- FERNANDO RODRIGUES Antiéticos
- CLÓVIS ROSSI O euro e os oráculos
- DORA KRAMER Ajoelhou, tem que rezar
- Descontrole e segurança
- Deboche à Nação
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Valentim Gentil Filho
- Claudio de Moura Castro
- MILLÔR
- André Petry
- Roberto Pompeu de Toledo
- Diogo Mainardi
- PCC Mesmo preso, Marcola continua mandando
- A complicada situação do juiz Medina
- Por que os tucanos não fazem oposição
- Aécio e seu novo choque de gestão
- O Carrefour compra o Atacadão
- Rússia Morre Boris Ieltsin
- Itália A fusão do partido católico com o socialista
- França Diminui o fosso entre esquerda e direita
- O irmão do planeta Terra
- O pacote de Lula para salvar a educação
- O melhor município do país
- A conceitual cozinha espanhola
- Morales quer legalizar chibatadas
- Comprimido antibarriga liberado no Brasil
- Quimioterapia para idosos
- Educação As dez escolas campeãs do Distrito Federal
- A Toyota é a maior montadora do mundo
- Um cão para chamar de seu
- Um bicho diferente
- Os salários dos atores nas séries americanas
- Polêmica religiosa no seriado A Diarista
- Os problemas de visão dos impressionistas
- O herói que não perde a força
- Livros O lado esquecido de Carlos Lacerda
- Livros Fantasia póstuma
- A "judicialização" da mídia, o patíbulo e o pescoço
- Opinião
- Colunas
- FHC, PSDB, princípios e unidade
- Franklin confessa no Roda Viva
- Opinião
- Colunas
- Bingão legal
- Um governo de adversários
- Mangabeira da Alopra
- Opinião
- Colunas
- LULA É RECORDISTA EM PUBLICIDADE
- AUGUSTO NUNES
- Goebbels em cronologia
- Franklin no Roda Viva
- Opinião
- Colunas
- O imperador do lápis vermelho
- Eu digo "NÃO"
- AUGUSTO DE FRANCO E A LUZ NO FIM DO TÚNEL
- UM ENGOV, POR FAVOR!
- Defesa, sim; impunidade, não
- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- RUY CASTROVampiros de almas
- FERNANDO RODRIGUES Judiciário, o Poder mais atrasado
- Um samba para a Justiça
- Serra-Lula: a verdade
- DANUZA LEÃO Nosso pobre Rio de Janeiro
- Caso Mainard -Kenedy Alencar
- A decadentização da língua JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Miriam Leitão A segunda chance
- FERREIRA GULLAR Risco de vida
- ELIANE CANTANHÊDE Questão de afinidade
- CLÓVIS ROSSI Conservadores do quê?
- DANIEL PIZA
- China diversifica e olha para o Brasil
- Banco do Sul: uma idéia sem pé nem cabeça por Mail...
- CELSO MING Nova costura
- DORA KRAMER Interlocutores sem causas
-
▼
abril
(465)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA