Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 07, 2007

CLÓVIS ROSSI Tudo tão normal

SÃO PAULO - Os aeroportos voltaram à normalidade. Normalidade à brasileira, claro: na quinta-feira, 134 vôos atrasaram e 37 foram cancelados, o que dá 12,5% dos 1.366 programados.
O motim dos controladores virou o bode na sala. Paralisou todos os vôos em parte do fim de semana passado. Retirado o bode da paralisação total, aceita-se como "normal" que haja problemas em mais de 10% das operações.
É assim o Brasil. A anomalia passa a ser normal.
Congestionamentos monstros, por exemplo. Nas rádios, dá a sensação de que o repórter do trânsito anuncia com certo orgulho que foi batido mais um recorde de congestionamento, como se fôssemos todos uma coleção de Michael Phelps do asfalto.
A anomalia é tão normal que que o controlador-geral da República, Jorge Hage, aceita tranqüilamente que haja descontrole no uso do dinheiro público que ele deveria controlar, como chefe da Controladoria Geral da União.
Disse o seguinte a Marta Salomon, uma tolinha desta Folha que não cansa de considerar anomalia anomalia mesmo, não normalidade: "A CGU vem apontando há tempos problemas no controle, mas não fazemos cavalo-de-batalha porque reconhecemos as fragilidades gritantes que os ministérios encontram em termos de falta de pessoal". Note o "há tempos".
Pois é, o controlador não faz "cavalo-de-batalha" mesmo ante a incapacidade de exercer sua função de controlar gastos públicos. Não é exemplo acabado de tomar a anomalia como normal?
Dá o seguinte panorama, segundo Ubiratan Aguiar, ministro do Tribunal de Contas da União: "O resultado desse modelo ineficiente traz (...) superfaturamento, obras inacabadas, atraso na disponibilização de obras à população beneficiária, destinação de recursos a intervenções desnecessárias ou não prioritárias".
Normal, tudo tão Brasil.


crossi@uol.com.br

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