Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 14, 2007

FERNANDO GABEIRA Um governo popular


A PESQUISA CNT/Sensus revelou como está alta a popularidade de Lula. Dezenas de interpretações vão surgir. Gostaria de acrescentar uma gota d'água a esse oceano de tinta.
Muita gente enfatiza o crescimento econômico. Acha um absurdo que o Brasil cresça apenas mais que o Haiti. E conclui, com isso, que o governo está perdendo apoio.
Acreditamos demais no conceito de PIB. Já na década de 70, ele era criticado, porque não separava claramente as despesas das receitas. O aumento do salário dos burocratas, por exemplo, era um crescimento do PIB. Mais recentemente, com a emergência da consciência ecológica, uma nova crítica se impõe ao PIB.
O crescimento econômico espetacular pode ser, ao mesmo tempo, um fator de destruição das riquezas nacionais. A destruição das florestas acrescenta alguns dígitos ao PIB, mas torna cada brasileiro mais pobre.
Com suas imprecisões, o PIB não ajuda a entender o processo. Se nos voltamos para outra referência, a distribuição de renda, vemos que ela é a menos perversa dos últimos 30 anos. Isso não significa que os problemas estão resolvidos. De um ponto de vista popular, esta variável é bem mais importante que o crescimento. O que não significa que a distribuição seja sustentável sem crescimento nem que a incapacidade de absorver novos trabalhadores tenha pouco reflexo nos níveis de violência urbana.
Cada um articula como pode as diferentes variáveis nacionais. A distribuição de renda é um fator decisivo nos governos de esquerda. Um caso limite é o de Cuba. É uma ilusão pensar que apenas a repressão política define a relativa adesão dos cubanos a Fidel.
Restam outros fatores, como a incompetência e a corrupção. No caso da primeira, Lula é bastante hábil para ficar de fora, exigindo soluções rápidas, como se fosse um opositor construtivo. No que diz respeito à corrupção, ele se coloca de novo de fora, sentindo-se traído.
Os observadores mais atentos, digamos um quarto dos entrevistados, associam a crise aérea ao governo. E também identificam nos métodos de montagem do gabinete as sementes da corrupção. No entanto, isso é apenas uma parte do país, universo da classe média, com seus editorialistas e formadores de opinião.
Até que ponto é sustentável uma rede social, sem crescimento?
Quando a violência urbana será associada ao ritmo do PIB, à corrupção, à incompetência? Nenhum esquema de poder é eterno. Mas este satisfaz à maioria dos políticos. Eles adoram as benesses do governo. Resta a oposição, mas ela é pequena e, sinceramente, não leva jeito para o papel.


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