Medicina Elas chegaram ao esporte O craque Thierry Henry armazena células-tronco para futuramente se recuperar de lesões Gabriela Carelli
O francês Thierry Henry, do Arsenal, da Inglaterra, um dos mais festejados atacantes do futebol mundial, revelou há pouco tempo que guardou amostras de sangue com células-tronco do cordão umbilical de sua filha. Elas estão armazenadas no banco de células-tronco privado CryoGenesis, em Liverpool. "O objetivo é preservar a saúde de minha filha no futuro, mas, se o material também servir para tratar uma contusão minha, será ótimo", declarou o homem que tirou o Brasil da última Copa do Mundo com um gol certeiro. Henry se refere ao mais novo uso que a ciência prevê para as células-tronco. Além de tratarem doenças graves, elas também poderão recuperar lesões nos músculos, tendões e ligamentos de atletas. Cinco outros jogadores do futebol inglês, que preferem não se identificar, estão na lista de clientes do CryoGenesis. A expectativa dos atletas se deve ao sucesso de experiências recentes feitas em laboratórios. Cientistas mostraram ser possível reconstruir com células-tronco os ligamentos de ratos. Lesões em ligamentos, muito comuns em atletas, são as mais complicadas para os cirurgiões, já que o corpo não restaura as fibras que os compõem. "Em nossos estudos, as células-tronco induziram a regeneração dos ligamentos de forma impressionante", diz o ortopedista americano Scott Rodeo, pesquisador do Hospital para Cirurgias Especiais, em Nova York, e médico do time de rúgbi New York Giants. "É possível que o tratamento esteja disponível em cinco anos", estima ele. As células-tronco têm a capacidade de se transformar em células de vários tecidos do corpo humano. Para utilizá-las em tratamentos, os cientistas primeiro as induzem a se transformar em determinado tipo de célula. Depois, estimulam sua multiplicação para que elas substituam tecidos ou estruturas físicas doentes. As células-tronco têm sido utilizadas com sucesso no tratamento de leucemia e mostram-se muito promissoras na recuperação de lesões cardíacas. Já na ortopedia, há controvérsias. Nem todos os médicos estão convencidos de que elas serão úteis no tratamento de atletas. "Apesar de semelhantes, os tecidos recuperados ainda não respondem mecanicamente da mesma forma que os originais", diz o médico gaúcho Jefferson Braga da Silva. "Reproduzir ossos ou músculos cardíacos, sem tantas funções biomecânicas, é mais fácil", ele afirma. Apesar das ressalvas, há muito otimismo em relação ao tratamento de lesões esportivas com células-tronco. O diretor do Centro de Pesquisas do Hospital Infantil de Pittsburgh, Johnny Huard, chega a defender o armazenamento de células-tronco de crianças de 5 a 7 anos de idade que demonstrem um excepcional talento atlético. Caso elas venham a se tornar grandes atletas no futuro, a cura rápida de suas lesões estaria garantida. A Academia Americana de Cirurgia Ortopédica adverte que ainda não há estudos suficientes sobre o assunto e que as experiências com humanos são limitadas. Para jogadores como Thierry Henry, cujo salário chega a 14 milhões de dólares por ano (fora os contratos publicitários), vale pagar o alto preço cobrado pelos bancos privados de células-tronco e confiar nas pesquisas médicas. |