BRASÍLIA - Depois de meses de tensão e de crises deflagradas pela queda do Boeing da Gol, a relação entre a Aeronáutica e os líderes dos controladores militares se deteriorou a tal ponto que é impossível a convivência, mesmo com o pedido de desculpas e com a desmilitarização -que, se vier, espera-se que seja lenta, gradual e segura.
Operação-padrão, greve, motim, ameaças de prisão, caos nos aeroportos, nada disso é compatível com as regras e a rotina militar. Hoje, nem a Aeronáutica quer os líderes do movimento, nem eles querem a Aeronáutica. Mas devem tentar um fim de caso sem dor.
Como isto é Brasil, o inquérito do Ministério Público Militar contra os controladores de vôo tende a acabar sem prisão nem expulsão do serviço público, apesar do crime de motim. Mas a Aeronáutica torce para que os próprios líderes cumpram a ameaça e voltem para casa.
De preferência, antes da conclusão de um outro inquérito: o das causas da queda do Boeing.
Terão, até lá, feito um enorme favor à Aeronáutica: nesse período, ela também foi incompetente, não deu as respostas que deveria e foi desmoralizada por Lula, mas, diante da evidência de que os sargentos controladores extrapolaram todos os limites e Lula errou ao ceder, acabou recuperando o controle e o presidente tem feito "n" agrados para os brigadeiros.
Lula restituiu a cadeia de comando, traiu o que prometeu aos controladores, vai convocar o Conselho de Defesa Nacional para finalmente renovar a frota de caças, concedeu a medalha da Defesa para o comandante Saito e anuncia a reforma de gestão do Ministério da Defesa.
Os lulistas aplaudiram Lula quando ele enfrentou a cúpula militar em favor dos sargentos e vão elogiá-lo com igual ímpeto agora, quando ele ataca os sargentos em favor da cúpula. Porque, afinal, Lula está sempre e absolutamente certo. Ai de quem diga o contrário...
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