Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 11, 2007

Celso Ming - Novo paradigma




O Estado de S. Paulo
11/4/2007

Na melhora do desempenho externo da economia brasileira é preciso distinguir dois fatores: a melhora da qualidade dos parâmetros macroeconômicos ou daquilo que os técnicos gostam de chamar de "fundamentos"; e a importante alteração das condições do mercado global.A coluna de ontem chamou a atenção para o fato de que o risco Brasil caiu mais do que o dos países emergentes. Isso mostra que a economia brasileira melhorou mais do que a desse grupo.Esta é a parte que se pode atribuir à melhora dos fundamentos propriamente ditos. O resto se deve à mudança de qualidade da economia mundial, que tem muito a ver com o que os economistas chamam, vagamente, de alteração do paradigma global.

Essa alteração tem lá suas características. Fiquemos com quatro: forte demanda por matérias-primas; inclusão de enormes contingentes da população asiática nos mercados de trabalho e de consumo; redução dos custos da produção industrial; e queda da inflação mundial. Enfim, o novo paradigma está ligado à emergência dos asiáticos, especialmente da China.

Um dos resultados dessa mudança é o forte superávit em conta corrente apresentado pelos países emergentes e pelos exportadores de petróleo, fator que guarda correspondência com o déficit de igual proporção na conta corrente dos Estados Unidos.O superávit obtido pelos emergentes e pelos exportadores de petróleo passou a ser aplicado em títulos do Tesouro dos Estados Unidos (T-Notes), o que fez crescer a demanda por esses ativos nos seis últimos anos.Mas pelo menos dois outros fatores também ajudaram a puxar essa demanda: o forte aumento de patrimônio dos fundos de pensão dos países ricos e o aumento das aplicações dos poupadores em fundos de investimento.Hoje, a demanda por T-Notes cresce mais rapidamente do que a oferta. Isso tem gerado ao menos dois impactos: redução dos juros de longo prazo, que é conseqüência dessa procura mais alta do que a oferta; e nova demanda por títulos de dívida de países emergentes, chamada a suprir a relativa escassez de T-Notes. Segue-se que causa importante na derrubada do prêmio de risco dos países emergentes (entre eles o do Brasil) é essa maior demanda mundial por títulos de dívida dos países emergentes.Quatro fatores tendem a elevar mais a procura por títulos de países emergentes e, portanto, a continuar a derrubada dos prêmios de risco: (1) o afrouxamento da política monetária (queda dos juros) a ser empreendido pelo Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos), que deverá deixar ainda mais moeda a ser trocada por ativos; (2) a esperada diversificação de reservas a ser empreendida pelos bancos centrais dos países emergentes; (3) a redução do déficit orçamentário dos Estados Unidos, que tenderá a reduzir a emissão de T-Notes; e (4) o crescimento do patrimônio dos fundos de pensão.Há mais coisa acontecendo entre o céu e a terra do que vem produzindo nossa vã economia.


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