3/4/2007 |
"Eu não decido sob pressão", jactou-se em 1974 o general-presidente Ernesto Geisel, irritado com demandas da sociedade brasileira vocalizadas pela oposição parlamentar. "Eu só decido sob pressão", replicou o deputado Ulysses Guimarães, presidente do velho MDB. Geisel não demoraria a aprender que o doutor Ulysses nem tentara ministrar-lhe uma lição. Apenas fizera uma constatação elementar. Nos anos seguintes, tal constatação seria reafirmada pelo penúltimo mandarim do regime dos generais. Pressionado pela guerra surda na cúpula das Forças Armadas e pelo tiroteio verbal nos quartéis, demitiu comandantes militares e um ministro do Exército. Pressionado pela voz rouca da rua, e por perturbadoras rachaduras no sistema edificado em 1964, desencadeou o processo de abertura política antes que tudo desabasse como um prédio de areia de Sérgio Naya. Geisel fez, enfim, o que fizeram todos os líderes desde o dia da criação, e o que todos farão enquanto o mundo existir. Porque nenhum governante, na democracia ou na ditadura, escapa a pressões permanentes. Muda a intensidade, condicionada por incontáveis fatores, redesenhada por acasos. Muda a forma de expressá-las: berradas nas ruas ou apenas murmuradas nos labirintos do poder, podem produzir efeitos idênticos. O que não muda é a regra reiterada ao longo dos séculos: quem espera por calmarias para tomar decisões está perdendo tempo - e desafiando a paciência da sociedade. Na contramão de Geisel, que acabou por render-se à evidência, o presidente Lula, outrora bom de cintura, parece ter-se convencido de que pode controlar a força dos ventos, ou modificar-lhes a direção. "Não adianta me pressionarem, só troco um ministro quando quero", tem repetido o chefe do governo, agora para justificar a injustificável permanência do companheiro Waldir Pires no Ministério do Apagão. Lula usou a frase para manter no Ministério da Previdência Social o senador Romero Jucá, um fazendeiro do ar que ofereceu em garantia, para conseguir dinheiro no Banco da Amazônia, terras que nunca teve no Pará. Não hesitaria em usá-la se a nomeação do deputado Odílio Balbinotti se tivesse consumado antes da revelação, pela imprensa, de que o homem escolhido para o Ministério da Agricultura prosperava nos campos da delinqüência. Logo estará usando a frase em defesa do senador Alfredo Nascimento, de volta ao Ministério dos Transportes. O parlamentar do PMDB é acusado da prática de crimes eleitorais pela Justiça do seu Estado. Freqüenta como réu cinco processos em tramitação no Supremo Tribunal Federal. Quatro tratam de casos de improbidade administrativa. No quinto, aparece como suspeito de crime de responsabilidade. Governar é escolher, sabem os estadistas. Escolher entre caminhos, escolher entre idéias. E escolher entre pessoas. O retorno de Nascimento a um dos mais lucrativos ministérios sugere que Lula, além de equivocar-se com dramática freqüência na escalação do time, agora virou reincidente. Corre o risco de montar uma equipe semelhante à que inspirou o comentário atribuído a Getúlio Vargas: "Metade do meu ministério não é capaz de nada. A outra metade é capaz de tudo". Lula se apresenta como responsável por todos os acertos federais. Os erros são sempre dos outros, mesmo se cometidos por gente que manteve no emprego por teimosia. Finge ignorar que tanto as virtudes quanto os pecados de um governo são postos na conta do chefe. No momento, simula empenhar-se na busca dos responsáveis pelo colapso da aviação civil. Todos estão no centro do poder ou nos seus subúrbios, por indicação do próprio Lula ou de algum preposto. O culpado pelo apagão é o presidente. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, abril 03, 2007
AUGUSTO NUNES O culpado é o presidente
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