O Estado de S. Paulo |
12/4/2007 |
Um balanço preliminar da economia mundial no primeiro trimestre mostra a mesma tendência do anterior, um crescimento lento, com tendência de relativo desaquecimento. Os efeitos da retração nos EUA não foram ainda sentidos porque o consumidor continua ativo. Segue comprando e sustentado uma taxa da ordem de 2,4%. E os EUA seguem importando, registrando déficits sustentados, que, nos últimos 12 meses, chegam a US$ 856 bilhões, segundo levantamento da revista The Economist. Ele pode recuar, pois poucos acreditam que as importações continuarão robustas se a demanda interna estacionar. Não se pode esperar um socorro pelos juros do banco central americano. Ele vai preferir um crescimento menor a uma inflação maior. EUROPA DE NOVO No primeiro trimestre, a União Européia voltou a surpreender, apontando para um aumento do PIB da ordem de 2,6% - pode ser mais, porém. E isso porque o desemprego registrou uma queda expressiva no primeiro trimestre. Está em 7,4% da força de trabalho, em contraste com os 10% e 11% nos últimos anos. É um novo contingente de consumidores entrando no mercado nos próximos meses, compensando, em parte, uma inevitável desaceleração das exportações, a manterem-se a atual taxa de crescimento do EUA, algo em torno de 2,4%, e o acirramento do protecionismo, como se vê nas negociações da Rodada de Doha. A UE não cede nos subsídios agrícolas e outros enquanto os EUA também não cederem, e ambos ficam numa situação tranqüila de nada resolver, como realmente querem. E isso porque Bush não pode aprovar nada antes de uma autorização do Congresso. De qualquer forma, temos aí uma Europa voltando a crescer agora, parece, de forma sustentada, com base no mercado interno, onde os indicadores de consumos animam. ALEMANHA É O DESTAQUE Pela primeira vez em muitos anos, a Alemanha está crescendo a 3,5%, no trimestre e com uma taxa de desemprego recuando de 11% no ano passado para 9,3% no trimestre. A inflação está em 1,5%, abaixo dos 2% máximos fixados pelo Banco Central Europeu. Temos aí um crescimento sem inflação. Pode-se concluir que na Alemanha e em toda a Eurozona o choque do petróleo foi absolvido. A segunda economia européia, a França, também mostra sinais positivos, mas vacila em torno de 2,6%, menor do que a de outros países-membros, como a Grã-Bretanha, que vem em segundo lugar, com 3,2%. Nos dois casos, o desemprego dá sinais animadores. A Grã-Bretanha continua, como há anos, apresentando uma taxa declinante, os excelentes 5,5%, de acordo com o modelo de cálculo europeu, mas 4,4%, segundo o britânico. Resumindo, temos uma Europa confirmando um crescimento maior, que, no entanto, ainda não compensa o recuo americano. CHINA NÃO DESAQUECEU AINDA Essa compensação continua vindo da China, onde as primeiras medidas de contenção do crescimento não estão sendo ainda sentidas. A estimativa para o primeiro trimestre é de um crescimento entre 10% e 11%, puxado por exportações, que aumentaram a uma taxa extraordinária de 42%, e construção civil e obras de infra-estrutura (+27% ante 2006). O comércio exterior representa 33% do PIB chinês. Mesmo que essa seja uma dependência incômoda, será difícil conter essa expansão. Nós mesmos estamos sentindo isso, com a invasão de produtos chineses de tecnologia avançada. O Brasil continuará exportando para a China, pois 60% das nossas vendas são de produtos primário, agrícola e mineral, enquanto importamos da China nada menos que 95% de produtos industrializados. BRASIL AINDA É PEQUENO Nesse cenário de crescimento estável, porém menor, o Brasil tem uma única vantagem, e eu diria, desagradável. Somos muitos pequenos no comércio mundial, no qual representamos, importação e exportação, apenas um pouco mais de 1%. Mas, atenção, é uma vantagem relativa, pois com uma retirada americana outros participantes do comércio mundial avançarão sem piedade sobre os nossos mercados. É o que já está acontecendo com a China e a Europa, que taxam nossas importações, subsidiam suas exportações, tirando competitividade de vários produtos brasileiros, já onerados internamente pelos juros, pelo câmbio, pelos impostos pesados e pela infra-estrutura ineficiente. As empresas exportadoras estão sem margem para continuar aumentando seus preços sem correr o risco de perder mercados para outros países. A China está nos roubando o mercado americano; os EUA e a Europa querem nos roubar o mercado de produtos agrícolas, ao mesmo tempo que avançam nos setores industriais, de serviços e propriedade intelectual. É essa complexidade que torna cada vez mais difícil um acordo multilateral como o pretendido com as negociações de Doha. Os EUA acabam de definir sua posição. Dias antes de mais uma reunião de alto nível para destravar as conversas, assinaram um acordo bilateral importante com a Coréia do Sul que vai reduzir em 95% as taxações mútuas. É o bilateralismo, compensações mútuas para apenas um país e não 130, como no caso da OMC. É o que se chama de "pragmatismo", que tanto falta na isolacionista política comercial brasileira. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 12, 2007
Alberto Tamer - Economia mantém ritmo lento
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