O Estado de S. Paulo |
21/9/2006 |
Acabou. Agora, qualquer reunião, que eles chamam solenemente de "conferência", é turismo agrícola. Na segunda-feira a poderosa comissária de Agricultura da União Européia (UE), Mariann Fischer Bõel, reunida com os representantes dos 25 países da comunidade, simplesmente comunicou que as propostas de flexibilidade comercial agrícola oferecidas pela comunidade nas últimas reuniões não estão mais sobre a mesa. A UE não tem mais nada a discutir, disse ela, dispensa reuniões ou pretensas "conferências". E nem está na conferência da Austrália, onde será simbolicamente representada pelo seu embaixador na OMC. Os europeus retiram, assim, a proposta de cortes de tarifas de importação de 39%. O Brasil queria 53%. Agora, não vai ter nada. Não foi um anúncio informal, nem uma declaração à imprensa. Madame Bõel deu essa informação em reunião oficial da comunidade com a presença dos ministros dos 25 países. Não se fala mais em acordo de Doha e, mais ainda, que querem ressuscitar na Austrália. E não é só isso. O comissário agrícola europeu, Peter Mandelson, não está presente por conta própria. Foi desautorizado de participar desse e de outros encontros. Aliás, está sendo criticado pela UE por falar demais e ter insinuado concessões, sem ser autorizado. Ontem mesmo ele já disse a um jornal australiano que qualquer proposta que saia da reunião é irrealizável. Entenda-se, terá o veto da UE. NÃO É SÓ A FRANÇA Mas tudo isso não seria apenas mais uma manobra liderada pela França, que já havia vetado qualquer concessão de liberalização agrícola? Sim, mas, informa o correspondente do Estado em Genebra, Jamil Chade, a França ultraprotecionista sempre foi contra, mas, desta vez, os franceses não estão sozinhos. Há um grupo de países na UE dos mais resistentes a qualquer reforma que prejudique de alguma forma o setor agrícola e beneficie importações que venham a competir com o produto interno, fortemente subsidiado. Entre esses países estão Itália, Espanha, Polônia, Áustria, Irlanda, Hungria. Há outros menos radicais, mas que não contestam essa posição de irredutibilidade. O que mudou é que antes ainda aceitavam negociar. Agora, não. A CULPA É DOS EUA Para salvar a face e não parecerem os únicos radicais nessa história de liberalização agrícola, que dura mais de 10 anos, eles se escondem, por enquanto, atrás dos EUA que, dizem, também não fazem concessões. São eles, os americanos, que estão travando tudo, dizem os europeus. E, sabem, eles têm razão. Apesar dos discursos liberalizantes de Bush, o mercado agrícola americano continua protegido e quer mais. Resumindo, nem a UE nem os Estados Unidos estão interessados em deixar de proteger seus produtores, a não ser que os demais agroexportadores abram seu mercado industrial e de serviços. E quem lidera a oposição a essa abertura é exatamente o Brasil, o país que mais exporta produtos agrícolas para a Europa... A briga é entre os Estados Unidos e a Europa, mas nós não ajudamos nem um pouco ao fechar questão sobre qualquer liberalização em outros setores. Entramos desajeitados nesse confronto, liderando reuniões inúteis, verdadeiros passeios turísticos comerciais. No Oriente Médio, nos países exóticos da Ásia e na longínqua Austrália. EUROPEUS DUROS DE ROER Colaborando com a coluna, o correspondente do Estado, Jamil Chade, faz um histórico dessa questão toda. 1 - Os europeus haviam proposto cortes de suas tarifas de importação de pouco menos de 39%; o Brasil defende um corte médio de 53%. 2 - Na reunião de julho, em Genebra, os europeus chegaram a insinuar que até pensariam numa redução tarifária em torno de 51%. Mas condicionaram essa medida a cortes significativos dos subsídios americanos. Como Washington não aceitou, alegando que no ano passado os seus subsídios eram inferiores aos da UE e exigiram mais cortes dos europeus, não houve acordo. Está tudo suspenso. A princípio, falou-se em renegociar tudo, mas aí tem as eleições americanas e, se um acordo não for concluído até meados de 2007, as negociações ficariam para... 2009. JÁ CHEGA! Um exemplo do endurecimento europeu é o caso do algodão. Quando a comissão propôs reduzir o atual subsídio de 1 bilhão, a Espanha, acompanhada por outros países, entrou com ação no Tribunal Europeu, que declarou a redução "ilegal". E os produtores de algodão continuam a receber o seu bilhão de euros anualmente... Resumindo, a Europa retira suas propostas, não negocia mais com ninguém. E, enquanto isso, o Brasil e os países agroexportadores - eles mesmos divididos por interesses próprios - continuam percorrendo o delicioso ciclo turístico de conferências e reuniões ministeriais... Afinal, não é gostoso viajar sem gastar nada? *E-mails: at@attglobal.net |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, setembro 21, 2006
Alberto Tamer - Europa não vai mais negociar
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