FSP
No momento culminante dos seus espichados seis meses, o caso José Dirceu mostrou-se na sua real dimensão, quando confrontado ontem com a gravidade da notícia oficial -a rigor, comprovação- de que a economia brasileira está andando para trás. O drama de Dirceu ganhou, no seu percurso, um revestimento de importância desproporcional a suas exíguas implicações não pessoais ou não partidárias. Mas o atestado oficial do forte emagrecimento econômico, além de explicar fatos recentes e deformados em torno de Dilma Rousseff, Antonio Palocci e Lula, já começou e vai avançar em conseqüências tanto no governo, como nos setores de opinião pública mais influentes.
A reunião convocada por Lula na segunda-feira, dada como do Conselho Político, não teve o propósito de "selar paz", nem deu "vitória a Palocci" com a fixação da tal meta de saldo de 4,25% nas contas governamentais. O núcleo do governo já fora informado do tamanho assustador da retração da economia. E é compreensível a perturbação de Lula com essa negação, muito além do que o preveniram, às suas afirmações e ao que ouve da equipe econômica.
A queda, no terceiro trimestre do ano, de 1,2% na soma da produção em todas as atividades brasileiras, comprova o exagero absurdo do arrocho governamental, sempre combinado com juros anticrescimento econômico. Pois foi esse arrocho que Palocci pretendeu fixar em lei pelo prazo mínimo de dez anos, no mínimo em 5,5% da produção nacional, ou seja, do chamado PIB. Daí a divergência manifestada pela ministra Dilma Rousseff, vítima de uma intrigalhada em que a acusaram de "propor a volta à gastança", pretender derrubar Palocci e, resquícios da ditadura, de "ofendê-lo" só por divergir.
E agora, Dilma Rousseff e sua divergência estavam ou estão erradas?
As reações do paloccismo tinham que correr, claro, para a explicação do desastre econômico como efeito da crise política. Mas proporcionaram outras cenas, até humorísticas à revelia. Foi o caso da pergunta de Carlos Alberto Sardenberg, experimentadíssimo jornalista de economia, a Miriam Leitão: "Por que o pessoal errou tanto?" [na previsão do PIB do terceiro trimestre]. Resposta: "Eles erraram". Que eles? Os comentários especializados que lemos e ouvimos, nos espaços específicos de jornais, rádio e TV, até anteontem eram de adesão explícita e entusiástica à política desmedidamente arrochante de Palocci. As exceções no jornalismo econômico são mínimas, e me agrada muito nelas incluir Luís Nassif.
Os ouvintes de Miriam Leitão puderam saber, ainda em sua resposta ao colega comentarista, que "agora está um barata voa para saber quem é o culpado". Por mim, não sei, mas meu palpite é o de sempre: sejam quais forem, na primeira fila dos responsáveis também figuram os que dão força -nos jornais, TV e rádios- à política econômica que, sabemos, pode dar muitos ganhos a alguns, mas mantém o Brasil na rabeira dos países do seu status econômico no mundo. Os países "em desenvolvimento" devem crescer, neste ano, entre 5 e 9%, segundo a ONU. Agora mesmo, o governo Kirchner foi acusado no jornalismo brasileiro de motivar, com sua política avessa ao arrocho paloccista, "o dobro da inflação do Brasil". O que não é bem verdade. Mas, sobretudo, foi omitido que a Argentina cresce o triplo do que o governo Lula sonhou, em vão, crescer neste ano.
Pouca atenção foi dada à expressiva entrevista do presidente da Fiesp, Paulo Skaff, na ocasião em que os jornais inflavam a tal guerra entre Dilma e Palocci. Por outras palavras, de mais ênfase, Skaff disse o mesmo que a ministra. O que disse então começou, ontem, a fazer mais sentido para a opinião pública, e a se tornar voz amplificada no empresariado. É a voz que todo presidente ouve. Como a da síntese feita por Antonio Carlos Gomes, da Fecomércio, sobre a queda revelada e a política econômica: "Onde se lê estabilidade, leia-se estagnação".
Observação final: o recuo da produção econômica no trimestre julho, agosto e setembro ocorreu exatamente quando a produção deslancha para o comércio de Natal.
Entrevista:O Estado inteligente
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