O Estado de S. Paulo - 03/03/2011
A custos crescentes e desgastes não desprezíveis, o Banco Central conseguiu, nos dois primeiros meses deste ano, estabilizar a cotação do dólar em torno de R$ 1,66 (veja gráfico).
Apesar da alta volatilidade da economia mundial, o mercado vai acreditando nessa estabilidade. A Pesquisa Focus, do Banco Central, por exemplo, indica que consultores, bancos e instituições apostam em que, ao final deste ano, a cotação do dólar estará em R$ 1,70 e, no fim de 2012, em R$ 1,79.
A indústria e os exportadores continuam achando um resultado medíocre. Estão insatisfeitos com o que entendem por excessiva valorização do real e perda de competitividade ante a concorrência estrangeira. Mas, afora as reclamações, não conseguem apontar nenhuma providência eficaz que possa virar esse jogo quase perdido.
As compras de dólares com o objetivo de criar demanda para uma oferta cada vez mais forte continuam no mercado à vista e no mercado futuro. Apenas em fevereiro (até dia 25), o Banco Central havia comprado US$ 7,2 bilhões no mercado à vista e US$ 973 milhões no mercado a termo. Nos dois primeiros meses do ano, as reservas externas saltaram 6,6%, de US$ 288,6 bilhões para US$ 307,5 bilhões.
O custo de carregamento dessas operações de compra, ou seja, a diferença entre o rendimento que o Banco Central obtém com os títulos comprados por essas reservas e o que paga pelos títulos que injeta no mercado para esterilizar os reais emitidos com as compras, deve ultrapassar este ano os R$ 40 bilhões, como já fora avaliado por esta Coluna no dia 25 de fevereiro.
A criação de novas demandas para o forte afluxo de moeda estrangeira esbarra em obstáculos técnicos. O primeiro deles é a inflação interna alta demais. Forçar a desvalorização do real significaria aumentar os preços dos produtos importados. O segundo obstáculo é o avanço do rombo do País em Conta Corrente que, pelas razões já conhecidas, convém evitar que se alastre. Se, por exemplo, fosse incentivado crescimento ainda maior das importações, não só a indústria instalada no Brasil enfrentaria aumento da concorrência, como também o déficit externo, que se quer conter, seria alargado.
A nova rodada de aperto monetário (alta dos juros) tende a trazer mais capitais e a evitar que muitos saiam. Os partidários da desvalorização do real gostariam que o governo coibisse a entrada tanto de capitais financeiros como boa parte dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Essas operações não são de fácil execução porque a liquidez opera em esquema de vasos comunicantes. E não é só isso. Mais do que nunca, o governo está sedento de mais capitais para o pré-sal, para as obras da Copa do Mundo e da Olimpíada, para o PAC, para o BNDES, para financiamento de capital de giro das empresas brasileiras e para tanta coisa mais.
Por isso, nas circunstâncias, a estabilização da cotação do dólar no patamar de R$ 1,66 aqui apontada não pode ser considerada resultado desprezível. Mas ninguém se iluda. O crescimento das reservas é, por si só, fator de mais entrada de dólares, como outras vezes esta Coluna apontou. E o fato de que o Banco Central atua como comprador firme de moeda estrangeira é fator de segurança para quem traz recursos de fora, porque reduz o risco cambial.
CONFIRA
A dose prevista
O aumento da Selic em meio ponto porcentual, para 11,75% ao ano, ficou na proporção esperada. Não se confirmou o que alguns analistas previam: a divulgação de um comunicado duro que tirasse as dúvidas sobre a continuidade do ajuste.
Ficou para a ata
Os analistas vão tentar agora garimpar na ata do Copom, a ser divulgada na próxima quinta-feira, o que acontecerá nos próximos meses.
Entrevista:O Estado inteligente
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