Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

EDITORIAL de O GLOBO O risco Irã

O Globo - 10/02/2010
O Irã recorreu a seu script preferido em se tratando do programa nuclear: num dia se mostrou disposto a enviar urânio para ser enriquecido no exterior — forma imaginada pelo Ocidente para controlar a produção; no outro, anunciou que começaria o enriquecimento, não mais a 3,5%, mas a 20%. Para fazer a bomba atômica é preciso urânio enriquecido a 90%. Mas, dizem os especialistas, é preciso muito menos tempo para ir de 20% a 90% que de 3,5% a 20%.

Portanto, mais uma vez o país pôs a comunidade internacional em estado de tensão e de confusão.

Teerã afirma que o programa nuclear é para fins pacíficos, e de fato o país precisa gerar mais energia elétrica. Sobre o enriquecimento a 20%, afirma que é necessário para aplicações "médicas".

O problema é que não tem credibilidade um governo que, em primeiro lugar, descumpre todas as exigências da Agência Internacional de Energia Atômica; em segundo, esconde instalações nucleares, como uma jogada de xadrez; em terceiro, é uma ditadura teocrática nas mãos de uma ala radical do Islã xiita que apoia grupos terroristas como o Hezbollah e o Hamas; e que fraudou a reeleição de seu ponta-de-lança — o presidente Mahmoud Ahmadinejad —, recorrendo a uma repressão brutal à oposição, com prisões e mortes em profusão.

Não resta ao Ocidente outro recurso senão a cartada diplomática, aplicando sanções mais duras do que as já em vigor contra a república islâmica. A ideia é tornar impossível a compra no exterior de componentes para o prosseguimento do programa nuclear iraniano. Os Estados Unidos, a França e a Rússia estão dispostos a tanto. A dificuldade continua sendo a China, contrária às novas sanções, provavelmente por conta de seus contratos de aquisição de petróleo iraniano.

E agora, ao que parece, também o Brasil, que ultimamente assumiu o papel de interlocutor do regime dos aiatolás extremistas.

O presidente Lula já teve dois encontros com Ahmadinejad e visitará o Irã em maio. Ontem, o chanceler Celso Amorim fez eco à China, criticando a ideia de novas sanções. Manter canais diplomáticos abertos é positivo, mas devese ter sintonia fina para saber a hora em que o interlocutor passa dos limites e deixa de ser digno de confiança. Pois a busca pelo Brasil de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU não pode justificar o acobertamento de um regime para o qual os fins justificam todos os meios, como o do Irã.

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