NAS ENTRELINHAS
Correio Braziliense - 22/02/2010
Ainda na seara da medicina, utilizada por Gilmar Mendes para comentar a crise no Distrito Federal, a doença do DF ainda tem uma chance remota de tratamento clínico. Mas, se não evoluir a contento, será o caso de uma intervenção cirúrgica, incluindo o Legislativo
A expressão acima, usada ontem na TV e na Rádio CBN pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, referindo-se à crise do Distrito Federal, era comentário em todas as rodas de Brasília onde havia algum cidadão preocupado com o tema. A declaração do comandante da mais alta corte do país — que será desaguadouro de todas as pontas do imenso nó que virou o DF — levou a todos a clara impressão que a intervenção está mesmo à porta dos brasilienses.
Conversas reservadas com juristas e antenados que auscultam as mentes dos senhores e senhoras integrantes da mais alta corte do país acreditam, no entanto, que esse ponto final ainda não chegou. Mas hoje a intervenção não está mais descartada pela Suprema Corte de forma cabal, como estava há uma semana.
A declaração do ministro Gilmar, dado o atual ponto em que as coisas estão — Paulo Octávio tenta governar e os distritais correm com processos tentando mostrar serviço —, nada mais foi do que um alerta aos deputados distritais: se eles tiverem a capacidade de entender o momento que o DF vive e forem capazes de um gesto de grandeza e desprendimento, deixando de lado projetos pessoais, podem livrar Brasília da intervenção. Caso contrario, não.
Ainda na seara da medicina, utilizada por Gilmar Mendes para comentar a crise no Distrito Federal, a doença do DF ainda tem uma chance remota de tratamento clínico. Mas, se não evoluir a contento, será o caso de uma intervenção cirúrgica, incluindo o Legislativo.
A reportagem de Ana Maria Campos e de Lilian Tahan, ontem, no Correio Braziliense, sobre a intenção dos distritais de eles mesmos elegerem o futuro governador, só fez aumentar o nível de toxinas que podem alterar o diagnóstico do tratamento clínico para uma posição mais radical. Um terço da Câmara Legislativa foi flagrado ou citado nos vídeos ou depoimentos de Durval Barbosa. É um terço da Casa. Essa "tchurma" iria votar para governador? Ora, ora.
Contaminada como a Câmara Legislativa está hoje, a mais alta Corte do país não permitirá que os parlamentares façam esse tratamento clínico de qualquer jeito. Se os distritais não desejam um interventor na Câmara, que façam um tratamento sério, com remédios bem conceituados no mercado da política. Se vierem com pílulas de farinha — aquelas que parecem remédio, têm caixinha bonitinha, mas não fazem efeito —, o diagnóstico evoluirá para cirurgia mesmo. Ou seja: a Câmara, que passou meses fazendo concessões para deixar a turma flagrada nos vídeos permanecer em seus quadros, terá, querendo ou não, que fazer uma concessão, no bom sentido, e trabalhar para manter no DF até dezembro um governo que responda a um tratamento clínico que dispense a cirurgia. O alerta de Gilmar está dado. É pegar ou largar.
Por falar em concessões…
Quem leu a entrevista do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, um dos fundadores do PT, ontem, no Globo, e viu o congresso do partido no dia anterior, tem a exata noção das concessões petistas ao longo da história. As antigas bandeiras políticas — como liberdade ao MST — até voltaram a tremular no programa, mas a turma pé no chão avisa desde já que, se Lula, com todo o seu prestígio junto ao eleitorado, não conseguiu, não será Dilma Rousseff, que acredita precisar do PMDB para se eleger, que irá desfraldá-las aos quatro cantos do país.
Tanto é que, em seu discurso, Dilma nem mencionou o programa do partido aprovado no 4º Congresso da legenda. No geral, os analistas do PT não têm mais dúvidas: se o partido quiser implementar suas bandeiras, terá que extirpar alguns aliados. Se eles ficarem, é melhor o PT esquecer o seu programa.
Entrevista:O Estado inteligente
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