FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/2010
Crise na Grécia é também nova aventura dos corsários da banca; só se tornou aguda com ataque especulativo
VOCÊ JÁ deve ter lido tudo o que a ortodoxia -hegemônica no mundo- tem a dizer sobre a crise na Grécia, que ameaça até o euro, uma das duas únicas moedas de reserva do planeta, atrás do dólar.
Culpa do governo, que gasta demais e é irresponsável ao ponto de falsificar as estatísticas. Foi o governo anterior, conservador, não o atual, social-democrata, mas não adianta: paga o Estado grego, seja quem for o responsável ou o ocupante de turno.
Nenhuma dessas acusações é falsa. Mas elas não contam a história inteira da crise na Grécia.
Ela só se tornou aguda a ponto de ameaçar quebrar o país por conta de um ataque especulativo praticado por instituições financeiras.
O ataque especulativo usou, entre outros, um instrumento muito citado desde que a crise global se instalou, mas é muito pouco compreendido, os tais CDSs (Credit Default Swaps). Trata-se, para simplificar, de um espécie de apólice de seguro contra "default" (calote, em linguagem de gente normal).
Para entender melhor como funciona, recorro a artigo para o "Financial Times" do dia 11 de James Rickards, hoje na Omnis, mas que foi conselheiro da Long-Term Capital Management, que quebrou anos atrás também envolvida em transações nebulosas.
Rickards lembra que, por 250 anos, o mercado de seguros funcionou com base em um preceito básico: o do interesse no bem assegurado por parte de quem fazia o seguro. Escreve Rickards: "Seu vizinho não pode comprar um seguro sobre sua casa porque ele não tem interesse "assegurável" nela. Esse tipo de seguro é considerado não saudável porque causaria no vizinho o desejo de que sua casa queimasse -e ele poderia até acender o fósforo".
O CDS é, basicamente, esse tipo de seguro não saudável, vendido e revendido em troca de gordas comissões. Pior: no caso da Grécia, o "vizinho" (o mercado financeiro) de fato acendeu o fósforo. Só não queimou o país todo porque a União Europeia funcionou como Corpo de Bombeiros, relutante, mas bombeiros ao fim e ao cabo.
Pior ainda: os piromaníacos do mercado financeiro ajudaram a acumular material inflamável na casa chamada Grécia, oferecendo instrumentos para maquiar as estatísticas lá atrás.
Comentário de Angela Merkel, a chanceler (conservadora) alemã: "Seria uma desgraça se for verdade que os bancos que já nos puxaram para a beira do abismo tomaram também parte na falsificação das estatísticas gregas".
Não é apenas a chanceler alemã, no âmbito do conservadorismo, a apontar os riscos. Paul Volcker, hoje aparentemente a voz mais influente no círculos de assessores econômicos do presidente Barack Obama, diz que o ponto de partida para as propostas de contenção da pirataria financeira "é o fato de que adicionar mais camadas de risco aos riscos inerentes às funções dos bancos comerciais não faz sentido, não quando esses riscos surgem de atividades especulativas muito mais adequadas para outras áreas dos mercados financeiros".
Não se trata, pois, de socialismo ou anticapitalismo, mas de puro sentido comum. Resta agora transformá-lo em legislação que contenha os piromaníacos.
Entrevista:O Estado inteligente
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