O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/02/2010
A classe C no Brasil está se transformando em uma nova classe média. Já representa 46% da renda nacional, superior à soma das classes A e B (44%). São famílias que recebem mensalmente entre R$ 1.115 e R$ 4.807. Ela começou a crescer no Plano Real, com o fim da hiperinflação, que havia reduzido drasticamente seu poder aquisitivo. Passou de 32% no início do plano para 37% no fim do governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas o grande salto ocorreu a partir de 2002, chegando em 2008 a representar 46% da renda nacional, de acordo com levantamento da FGV, divulgado esta semana.
"Do ponto de vista social, é quase uma revolução: foi a ascensão da classe C transformando-se numa nova classe media. Nos últimos 15 anos, essa classe passou de 32% para 52% da população. Isso representa hoje mais de 90 milhões incorporados ao mercado que apropria quase a metade da renda disponível no mercado, afirma o professor e diretor da FGV em São Paulo, Yoshiaki Nakano, em artigo publicado na terça-feira no Valor.
"Com isso, a economia brasileira está se convertendo em uma das maiores economias de mercado de massa do mundo", afirma ele.
VAI DURAR?
Os céticos dizem que não. Cientistas políticos afirmam não há bem uma ascendência social, mas apenas aumento de renda. Para professor Bolivar Lamounier - em estudo feito para a CNI transformado em livro escrito com hermética linguagem acadêmica -, a informalidade pode ser um obstáculo à continuidade desse processo. Mas as pesquisas mostram que um dos motivos dessa ascensão da classe C foi exatamente a redução da informalidade que se acentua a cada ano!
Tudo isso dito em frases pomposas, esotéricas, comuns aos acadêmicos que se recusam a falar com os leigos. O que os "cientistas políticos", mesmo catedráticos como o professor Lamounoier, entendem seriamente de economia? Por que não se limitam a ficar na sua área e não dar palpites sobre o que pouco entendem? Nunca se viu um Affonso Celso Pastore ou o Mailson da Nóbrega falar sobre "ciência política" Sabem que não entendem disso, o que não lhes faz muita falta. Está faltando humildade aos nossos professores "cientistas políticos" que põem em dúvida a sustentação do aumento do consumo da nova classe média e outras de baixo poder aquisitivo, que virão logo a seguir com o crescimento da massa salarial. Não acreditam no novo "mercado de massa" que agrega a cada ano milhões de consumidores.
MAIS 90 MILHÕES CONSUMINDO
Yoshiaki Nakano dá um resposta indireta aos céticos e aos "cientistas políticos". A geração de novos empregos formais está aumentando desde o início do século associada com o aumento real dos salários e, consequentemente, da demanda. E intensificou nos últimos anos, agora, com a maior renda dos trabalhadores e inflação estabilizada. É exatamente o oposto ao que o professor Lamounier afirma. Mas não fica em frases empoladas. Apresenta números irrefutáveis da Pesquisa Anual de Domicílios para os quais os "cientistas políticos" deveriam atentar:
"O salário real médio aumentou em torno de 6% ao ano de 2004 a 2008. A isso se conjuga o fato de que entre 2003 e 2009 foram criados 8,5 milhões de novos postos de trabalho, gerando um poderoso círculo virtuoso de crescimento autossustetado". E repete: com a ascensão da nova classe média, por causa do aumento do emprego com melhor remuneração, entraram 90 milhões de pessoas no mercado consumidor. Irrefutável, senhores cientistas políticos, com a falta de "espírito associativo"ou "fatores de produtividade", eles querem dizer celular e computador, ou não.
É RENDA, NÃO ASSISTENCIALISMO
Marcelo Neri, PhD por Princenton e Chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, comenta os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA). A partir de 2004, nada menos que 32 milhões subiram para as classes A e B e 19,3 milhões saíram da pobreza. "Dá para transformar o País rapidamente, aos saltos, embora a desigualdade continue grande. Precisa cair três vezes para convergir aos níveis dos EUA."
Não seria apenas em decorrência considerada por muitos assistencialista, como o Bolsa-Família?
Não, diz ele. "O que cresceu foi a renda do trabalho e não aquela proveniente dos programas de socorro. O Bolsa-Família representa apenas 0,4% do PIB."
Não estamos, portanto, afirmam ele e Nakano, diante de um processo passageiro (eu quase ia dar uma de cientista político e dizer "pontual") que não tende a se sustentar, mas da criação de um círculo virtuoso de emprego-aumento de renda-consumo-produção e de novo emprego.
O QUE PODE ATRAPALHAR...
... É a falta de mais investimentos não apenas financeiros, mas os que geram produção, principalmente na indústria, após dois trimestres de recessão. Isso não impediria, em curto prazo, que o consumo da nova classe e de outras continuasse a crescer. Mas um atraso entre a oferta de produtos e a demanda certamente pressionaria a inflação, levando o Banco Central a aumentar o juro com reflexos sobre o crescimento e, evidentemente, sobre o emprego. O círculo virtuoso se enfraquece e pode desfazer-se no elo mais fraco. Essas pressões já estão sendo sentidas e poucos duvidam de um reajuste da taxa.
A grande falha do governo foi não estimular os investimentos ao mesmo tempo em que incentivava a demanda, gerando mais consumo e menor produção
Mas, de qualquer forma, há mais 90 milhões de pessoas consumindo e outras, das classes D e E, chegarão também com a criação de mais e um milhão de empregos neste ano, se a economia continuar caminhando para crescer 6%.
O mercado consumidor de massa chegou, está aí, talvez para desprazer dos "cientistas políticos" que perdem mais uma oportunidade de continuar fazendo elucubrações em torno do nada.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2010
(1998)
-
▼
fevereiro
(171)
- No afã de ‘justificar’ Cuba, Lula ‘esquece’ Honduras-
- A morte de Zapata e a omissão de Lula
- Apoiar assassinos, e não ter remorsos
- Celso Ming - Lições da austeridade
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ La amenaza de un virtual cier...
- MARIANO GRONDONA El día en que todos nombraron al ...
- Miriam Leitão Refúgio dos ricos
- Rubens Ricupero Paz perpétua
- Ferreira Gullar Pega mal
- MERVAL PEREIRA Palpite infeliz
- SERGIO FAUSTO Basta ter olhos para ver
- SUELY CALDAS Estatais? Para que?
- JANIO DE FREITAS Cuba e seus amigos
- DANUZA LEÃO O melhor dos mundos
- CLÓVIS ROSSI Ladeira acima
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Tempos modernos
- GAUDÊNCIO TORQUATO Os eixos da identidade de Dilma
- Celso Ming - O lucro do Banco do Brasil
- Merval Pereira Temores
- EDITORIAL - O GLOBO Tática de ocas
- VILAS-BÔAS CORRÊA - COISAS DA POLÍTICA Lula pisou ...
- CLÓVIS ROSSI Cuba, sonho que virou pesadelo
- MERVAL PEREIRA Temores
- MÍRIAM LEITÃO Gregos e nós
- O roteiro final do mensalão
- Reinaldo Azevedo: NOTA DE PIMENTEL É DESASTRADA.
- MÍRIAM LEITÃO Ilha presídio
- CELSO MING Reinício do aperto
- Banda turva-EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
- JOÃO MELLÃO NETO- QUEM TEM MEDO DOS POPULISTAS?
- Duas faces-EDITORIAL de O GLOBO
- Do lado dos perpetradores - Editorial de O ESTADO ...
- "Lost" Fernando de Barros e Silva
- Os meios e as mensagens-Nelson Motta
- Acordo Brasil-Irã-Merval Pereira
- Modelo démodé Míriam Leitão
- Mexer no coração Merval Pereira
- CELSO MING Vespas sem ferrão
- FABIO GIAMBIAGI O atraso argentino
- LUIZ FELIPE LAMPREIA A casca de banana do outro la...
- ALBERTO TAMER OMC, em risco, admite: Doha acabou
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Novos cotistas
- ARNALDO JABOR RAUL CASTRO CULPA OS AMERICANOS PEL...
- Como vocês já devem saber, morreu o preso político...
- AUGUSTO NUNES
- Equívocos da banda larga Editorial de O Estado de ...
- Falta César Celso Ming
- O caldo volta a engrossar VINICIUS TORRES FREIRE
- Internet aberta:: Melchiades Filho
- Dirceubrás: Fernando de Barros e Silva
- Cautela suprema- Merval Pereira
- Reinaldo Azevedo-EIS AÍ, BRANQUELOS! FAÇAM BOM PRO...
- Josef Barat* -Flertando com o passado?
- RODRIGO ALVARES Petistas da Saúde temem confronto ...
- A misteriosa sacolinha brasileira de Madonna-Monic...
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Quem sabe comprar um com...
- “Metástase institucional” Denise Rothenburg
- FERNANDO DE BARROS E SILVA Mensalão, raça, catarse
- Não parece. Mas Lula garante que há uma universida...
- AUGUSTO NUNES-CELSO ARNALDO DÁ UM RASANTE NA PISTA...
- Nada de novo no front petista-Lucia Hipolito
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Tudo bem, é verdade, confesso.
- Yoshiaki Nakano-A grande transformação social
- Celso Lafer-Nabuco e a governabilidade
- FERREIRA GULLAR As muitas caras de Da Vinci
- MERVAL PEREIRA O lulismo e o petismo
- SUELY CALDAS Lula, Dilma e suas diferenças...
- DANUZA LEÃO É sempre ao contrário
- GAUDÊNCIO TORQUATO O último samba de Brasília
- CELSO MING E quem regula o Estado?
- Celso Ming -Beliscada nos juros
- AUGUSTO NUNES sobre entrevista de Lula ao Estadão
- CLÓVIS ROSSI Licença para queimar a casa (a sua)
- FERNANDO DE BARROS E SILVA "A mulher do Lula"
- MERVAL PEREIRA Queda de braço
- MERVAL PEREIRA Medo da intervenção
- CELSO MING Bendita e maldita
- NELSON MOTTA Carnavais, fantasias e desastres
- FERNANDO DE BARROS E SILVA ESQUERDA FESTIVA
- LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Todos os olhos na e...
- REINALDO AZEVEDO:
- A Serra o que é de Serra Roberto Macedo
- MERVAL PEREIRA O fim da picada
- ROLF KUNTZ Gargalos e tropeços
- DEMÉTRIO MAGNOLI Fora da lei
- ALBERTO TAMER Obama nem quer falar mais com os eur...
- CELSO MING Metamorfose
- Roberto Romano: “Segredo e censura, irmãos siameses”
- ROBERTO Da MATTA A sina da coluna: fim de festa
- Ainda os efeitos da crise bancária- Luiz Carlos Me...
- AUGUSTO NUNES-AGORA QUE O CARNAVAL PASSOU, É HORA ...
- JOSÉ NÊUMANNE Arbítrio balança o berço da impunidade
- FERNANDO DE BARROS E SILVA Meirelles na manga
- CELSO MING O euro sem chão
- MERVAL PEREIRA Folia eleitoral
- O caixa automático e o especulador -VINICIUS TORRE...
- CELSO MING Decreto não muda o juro
- Classe média à vista-Wilson Figueiredo
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Os Estados Unidos saindo...
- Joseph Siglitz - Liderança, com algemas
-
▼
fevereiro
(171)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA