VEJA ON LINE
12 de fevereiro de 2010
A agenda do homem público José Roberto Arruda foi atropelada pelo prontuário do delinquente José Roberto Arruda. Governador do Distrito Federal desde 2006, já deveria estar no Rio nesta sexta-feira, pronto para brilhar na Marquês de Sapucaí. Criminoso irrecuperável desde o berçário, cancelou passagens aéreas e reservas no hotel para hospedar-se involuntariamente na Polícia Federal. Em vez de desfrutar das noites cariocas, vai pensar na vida durante as madrugadas na cadeia.
Para os brasileiros honestos, a prisão de um corrupto da classe executiva é mais animadora que qualquer samba-enredo. Pelo menos não serão afrontados pelo sorriso do bandido no camarote, pago com dinheiro público, assistindo à passagem da Beija-Flor, que escolheu o 50° aniversário de Brasília como tema do enredo para que o governo pilantra pagasse a conta da festa.
É cedo, contudo, para festejar o fim da impunidade dos meliantes da primeira classe. O primeiro pedido de habeas corpus foi rejeitado pelo ministro Marco Aurélio de Mello. Mas outros virão. E mesmo o mais delirante dos otimistas sabe que Arruda estará em liberdade antes da Sexta-Feira Santa.
Em países civilizados, o chefe da Turma do Panetone aprenderia o que acontece a quem rouba com a desfaçatez, a gula, e o cinismo documentados pelos vídeos inverossímeis. Se fosse julgado por um tribunal americano, por exemplo, Arruda só voltaria a brincar no Carnaval num clube da terceira idade. Como isto aqui é o Brasil, expressões como "direito à ampla defesa" e "devido processo legal" prevalecem sobre o dever de impedir que criminosos exerçam o direito de ir e vir para dedicar-se à obstrução da Justiça, ao sumiço de provas e à intimidação de testemunhas.
É o que Arruda vinha fazendo desde a divulgação das gravações cafajestes ─ e voltará a fazer depois da escala na cadeia, só que menos ostensivamente. Foi preso não por corrupção, mas por ansiedade. Deveria ter esperado que os vídeos caíssem no buraco negro da desmemória brasileira para tentar subornar uma testemunha. Mesmo para os padrões do Judiciário, foi demais.
Ironicamente, a primeira prisão de um governador corrupto, ao escancarar a solidão de Arruda na paisagem absurdamente despovoada de colegas de profissão, transformou-se numa prova contundente de que o Brasil não prende ladrões com bons advogados e amigos influentes. Larápios infestam os três Poderes, a procissão de escândalos não para, falta espaço aos jornais para tantos patifes. Mas só Arruda está na gaiola.
"A prisão do Arruda deve ser servir de exemplo", disse Lula nesta sexta-feira. "É um absurdo a gente constatar que, em pleno século 21, isso ainda acontece no Brasil". O Padroeiro dos Pecadores Companheiros tem tanto compromisso com a seriedade quanto um vadio profissional com o trabalho. Não lhe basta afrontar o país que presta com a absolvição liminar dos cafajestes amigos, com a mão estendida a José Sarney, com o tratamento de comparsas dispensado aos mensaleiros.
A declaração desta sexta-feira não rima com as anteriores. "As imagens não falam por si", resolveu Lula depois de confrontado com gatunos enfiando montes de cédulas nos bolsos, nas meias e na cueca. Como não conseguiu livrar do camburão outro patife de estimação, o presidente faz de conta que a corrupção no Brasil foi inaugurada por Arruda. Os cofres públicos nunca foram assaltados com tanta cupidez quanto nos últimos sete anos. Lula não conseguiu enxergar nenhum ladrão. Acaba de ver o primeiro. Parece ficção.
Uma peça de ficção tão obscena quanto a reação da companheirada que topa qualquer safadeza porque os fins justificam os meios. "Não vai falar do Arruda?", excitam-se as patrulhas petistas, como se homens de bem pudessem ser indulgentes com um fora-da-lei só por não estar homiziado no PT. Como são assim, os patrulheiros precisam acreditar que todos sejam. Aqui se disse do governador do DF. desde o primeiro vídeo, o que se diz agora: merece cadeia.
O rebanho dos devotos de Lula dividem o mundo em branco e preto. Quem apoia o chefe está certo, mesmo que seja um Sarney. Quem não apoia está, além de errado, vinculado a todos os não-companheiros. Fanáticos não conseguem admitir a existência de gente simplesmente honesta, pronta para exigir a punição de quem não é ─ pouco importa o nome do bandido, pouco importa a filiação partidária.
Sem Arruda na rua, o Carnaval ficou mais animado. Ficaria muito melhor se a população carcerária fosse engrossada também pelos 40 companheiros da organização criminosa sofisticada chefiada por José Dirceu. Se fossem eternizadas em vídeo, as cenas que exibem pais-da-pátria carregando malas da grife Marcos Valério, líderes da base alugada dividindo o produto do roubo, quantias astronômicas pousando em bancos na Suíca e outros lances pornográficos lembrariam, comparadas à chanchada da Turma do Panetone, um épico hollyoodiano.
Enquanto o escândalo do mensalão se arrasta no Supremo Tribunal Federal, os quadrilheiros desmascarados em 2005 saboreiam a liberdade imerecida. Alguns estão de volta à direção do PT e cuidam da campanha de Dilma Rousseff. São aplaudidos pelas mesmas matilhas que pedem a forca para o governador que, perto da turma do mensalão, fica com cara de punguista aprendiz.
Os colegas de Arruda deveriam estar numa cela. Estão no palanque.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2010
(1998)
-
▼
fevereiro
(171)
- No afã de ‘justificar’ Cuba, Lula ‘esquece’ Honduras-
- A morte de Zapata e a omissão de Lula
- Apoiar assassinos, e não ter remorsos
- Celso Ming - Lições da austeridade
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ La amenaza de un virtual cier...
- MARIANO GRONDONA El día en que todos nombraron al ...
- Miriam Leitão Refúgio dos ricos
- Rubens Ricupero Paz perpétua
- Ferreira Gullar Pega mal
- MERVAL PEREIRA Palpite infeliz
- SERGIO FAUSTO Basta ter olhos para ver
- SUELY CALDAS Estatais? Para que?
- JANIO DE FREITAS Cuba e seus amigos
- DANUZA LEÃO O melhor dos mundos
- CLÓVIS ROSSI Ladeira acima
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Tempos modernos
- GAUDÊNCIO TORQUATO Os eixos da identidade de Dilma
- Celso Ming - O lucro do Banco do Brasil
- Merval Pereira Temores
- EDITORIAL - O GLOBO Tática de ocas
- VILAS-BÔAS CORRÊA - COISAS DA POLÍTICA Lula pisou ...
- CLÓVIS ROSSI Cuba, sonho que virou pesadelo
- MERVAL PEREIRA Temores
- MÍRIAM LEITÃO Gregos e nós
- O roteiro final do mensalão
- Reinaldo Azevedo: NOTA DE PIMENTEL É DESASTRADA.
- MÍRIAM LEITÃO Ilha presídio
- CELSO MING Reinício do aperto
- Banda turva-EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
- JOÃO MELLÃO NETO- QUEM TEM MEDO DOS POPULISTAS?
- Duas faces-EDITORIAL de O GLOBO
- Do lado dos perpetradores - Editorial de O ESTADO ...
- "Lost" Fernando de Barros e Silva
- Os meios e as mensagens-Nelson Motta
- Acordo Brasil-Irã-Merval Pereira
- Modelo démodé Míriam Leitão
- Mexer no coração Merval Pereira
- CELSO MING Vespas sem ferrão
- FABIO GIAMBIAGI O atraso argentino
- LUIZ FELIPE LAMPREIA A casca de banana do outro la...
- ALBERTO TAMER OMC, em risco, admite: Doha acabou
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Novos cotistas
- ARNALDO JABOR RAUL CASTRO CULPA OS AMERICANOS PEL...
- Como vocês já devem saber, morreu o preso político...
- AUGUSTO NUNES
- Equívocos da banda larga Editorial de O Estado de ...
- Falta César Celso Ming
- O caldo volta a engrossar VINICIUS TORRES FREIRE
- Internet aberta:: Melchiades Filho
- Dirceubrás: Fernando de Barros e Silva
- Cautela suprema- Merval Pereira
- Reinaldo Azevedo-EIS AÍ, BRANQUELOS! FAÇAM BOM PRO...
- Josef Barat* -Flertando com o passado?
- RODRIGO ALVARES Petistas da Saúde temem confronto ...
- A misteriosa sacolinha brasileira de Madonna-Monic...
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Quem sabe comprar um com...
- “Metástase institucional” Denise Rothenburg
- FERNANDO DE BARROS E SILVA Mensalão, raça, catarse
- Não parece. Mas Lula garante que há uma universida...
- AUGUSTO NUNES-CELSO ARNALDO DÁ UM RASANTE NA PISTA...
- Nada de novo no front petista-Lucia Hipolito
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Tudo bem, é verdade, confesso.
- Yoshiaki Nakano-A grande transformação social
- Celso Lafer-Nabuco e a governabilidade
- FERREIRA GULLAR As muitas caras de Da Vinci
- MERVAL PEREIRA O lulismo e o petismo
- SUELY CALDAS Lula, Dilma e suas diferenças...
- DANUZA LEÃO É sempre ao contrário
- GAUDÊNCIO TORQUATO O último samba de Brasília
- CELSO MING E quem regula o Estado?
- Celso Ming -Beliscada nos juros
- AUGUSTO NUNES sobre entrevista de Lula ao Estadão
- CLÓVIS ROSSI Licença para queimar a casa (a sua)
- FERNANDO DE BARROS E SILVA "A mulher do Lula"
- MERVAL PEREIRA Queda de braço
- MERVAL PEREIRA Medo da intervenção
- CELSO MING Bendita e maldita
- NELSON MOTTA Carnavais, fantasias e desastres
- FERNANDO DE BARROS E SILVA ESQUERDA FESTIVA
- LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Todos os olhos na e...
- REINALDO AZEVEDO:
- A Serra o que é de Serra Roberto Macedo
- MERVAL PEREIRA O fim da picada
- ROLF KUNTZ Gargalos e tropeços
- DEMÉTRIO MAGNOLI Fora da lei
- ALBERTO TAMER Obama nem quer falar mais com os eur...
- CELSO MING Metamorfose
- Roberto Romano: “Segredo e censura, irmãos siameses”
- ROBERTO Da MATTA A sina da coluna: fim de festa
- Ainda os efeitos da crise bancária- Luiz Carlos Me...
- AUGUSTO NUNES-AGORA QUE O CARNAVAL PASSOU, É HORA ...
- JOSÉ NÊUMANNE Arbítrio balança o berço da impunidade
- FERNANDO DE BARROS E SILVA Meirelles na manga
- CELSO MING O euro sem chão
- MERVAL PEREIRA Folia eleitoral
- O caixa automático e o especulador -VINICIUS TORRE...
- CELSO MING Decreto não muda o juro
- Classe média à vista-Wilson Figueiredo
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Os Estados Unidos saindo...
- Joseph Siglitz - Liderança, com algemas
-
▼
fevereiro
(171)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA