Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

LUIZ GARCIA A prática, na prática

O GLOBO - 12/02/2010


No fim do mês que vem haverá eleições na Organização dos Estados Americanos.

Ninguém por aqui está falando nisso, possivelmente com razoável explicação: a nossa ONU regional não é exatamente uma entidade com presença decisiva nos conflitos do continente.

Nos seus estatutos, a OEA assume — como lembrou outro dia um analista americano, devidamente consternado — o solene compromisso de fortalecer a paz e a segurança na região, dentro do modelo da democracia representativa.

Ultimamente, tem falhado à direita e à esquerda.

No ano passado, por exemplo, a organização foi incapaz de reagir com eficiência quando os militares hondurenhos chutaram para o exílio o presidente eleito. No outro prato da balança, o secretário-geral José Miguel Insulza — um socialista chileno, o que não significa exatamente excesso de esquerdismo — tem se recusado a sequer franzir o sobrolho (como se fazia antigamente) ante o avanço do autoritarismo na Venezuela.

A propósito, pode ser conveniente reconhecer que o esquerdismo de Hugo Chávez muitas vezes parece muito mais oportunista do que ideológico. Enfim, com raras e quase esquecidas exceções, falar mal dos americanos raramente fez alguém perder eleição abaixo do Equador.

No mês que vem, Insulza é candidato à reeleição. Barack Obama ainda não decidiu se apoia algum adversário do secretário-geral ou se finge que não está nem aí. A segunda opção não é necessariamente tímida ou preguiçosa.

Embora Washington pague 60% das contas da OEA (uns 40 e muitos milhões de dólares por ano), uma declaração de voto da Casa Branca pode ser o beijo da morte. Aconteceu no governo Bush, duas vezes.

Ainda assim, ainda há analistas e políticos americanos sustentando que Washington deveria exigir de Insulza e qualquer outro candidato a secretário-geral um compromisso de amor pela democracia no continente, com a ameaça de deixar de financiar a OEA se a nova administração renegar esse amor.

É o tipo de proposta que parece simples e direta — pão, pão, queijo, queijo, como se dizia antigamente. Como alguns já lembraram, em outros debates, o problema é que na prática, a prática é diferente.

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