O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/02/10
Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Quem deu vida ao recente progresso social no Brasil? O governo do PSDB ou o do PT? O economista da Fundação Getúlio Vargas Marcelo Néri não tem resposta para o primeiro dilema (e quem teria?), mas para o segundo ele não vacila: os dois governos. Analisando os números da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, Néri descobriu que desde 1995 contingentes expressivos de pobres têm sido incorporados à classe média, que hoje já representa 52% da população. O mérito do avanço ele atribui às gestões dos presidentes FHC e Lula. Mas lembra: tudo começou com o Plano Real, sem ele tal progresso não teria ocorrido.
O presidente Lula não cansa de glorificar seu governo, desqualificar todos os que o antecederam e afirmar que a prosperidade nasceu com ele. Mas imagine, leitor, se Lula e o PT governassem o País antes do real? O que teriam feito para derrubar a hiperinflação, que devorava salários, desorganizava a economia, atrofiava o crescimento, impedia as pessoas de planejarem suas vidas, afugentava investimentos? Se as tinha, o PT nunca divulgou suas ideias para estabilizar a economia e liquidar a inflação.
Mas bateu muito no Real. Na campanha eleitoral de 1994 chamou-o de plano neoliberal, eleitoreiro e que não duraria seis meses. Se vencesse a eleição, Lula teria preservado o plano? Convidaria para ficar no governo a equipe de economistas que o criaram (todos ligados à FHC) para dar seguimento a ele? Ou o revogaria por acreditar ser neoliberal, que teria vida curta e fracassaria? Àquela altura, seis meses depois de implantado, com os preços em queda e uma moeda nova e forte em circulação, seria isso possível?
A história foi outra. FHC venceu as eleições e o Real foi um sucesso, após tantas tentativas fracassadas. Hoje nem Lula nem o PT saberiam responder o que teriam feito. Também na época não pareciam ter resposta. Na eleição de 2002 Lula foi levado a assinar a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometia a dar seguimento à política econômica de FHC e renegava a ruptura prometida por 20 anos pelo PT e expressa na difusa e indefinida frase "vamos acabar com tudo o que está aí", sem dizer o que viria depois. Mas em 1994 era diferente: não havia oito anos de estabilidade, preços controlados, economia organizada, a população comprando bens a prazo, o consumo crescendo. O "acabar com tudo o que está aí" prevalecia, tinha força no PT. O que seria hoje o País se Lula vencesse a eleição em 1994?
Em extensa reportagem sobre o Brasil, o jornal inglês Financial Times resumiu que o maior mérito de Lula foi continuar a política econômica de FHC. Os fatos, a história e análises honestas de historiadores, sociólogos e economistas concordam. Não é demérito para Lula ter dado seguimento ao que foi feito pelo antecessor. É natural e bom que isso ocorra em países democráticos, se o antecessor plantou boas sementes. Afinal, o que seria de um país se cada novo presidente desmanchasse tudo o que de bom encontrou, só para marcar posição política? Portanto, ponto para Lula, que, mesmo enfrentando a oposição de boa parte do PT, manteve a política econômica de FHC. Outro ponto, se tivesse honestidade de reconhecer - reforçaria valores de civilidade política e maturidade democrática.
O que não é bom para o País é o clima de disputa obsessiva de quem fez mais (como se governar fosse uma maratona) que Lula e sua candidata querem levar à campanha eleitoral.
Os dois governos têm seus méritos. FHC deu a partida, criou uma moeda nova, estabilizou a economia, derrubou preços, fincou raízes na educação, levando para a escola 96% das crianças entre 7 e 14 anos de idade. Criou agências reguladoras para proteger serviços públicos da má influência política e a Lei de Responsabilidade Fiscal para frear ações corruptas de prefeitos, governadores e presidentes. Privatizou empresas com crônicos prejuízos financeiros e que só serviam a políticos desonestos (a Telebrás, que agora Lula quer ressuscitar, foi a maior delas).
Lula deu ênfase ao progresso social: estimulou o crédito popular, expandiu o consumo, aumentou o valor do benefício e ampliou para 11 milhões as famílias do programa Bolsa-Família, criado por FHC com o nome de Bolsa-Escola. O País passou a crescer de forma sustentada e a renda do trabalho foi ampliada. Multiplicou as reservas cambiais, livrando o País de um desastre maior na crise global. Um sem o outro, os pobres continuariam pobres, não teriam migrado para a classe média.
Entrevista:O Estado inteligente
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