Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 07, 2008

VINICIUS TORRES FREIRE Fim de linha: estatização em massa



Em plena anarquia do pânico, finança mundial pede ação maciça do Estado a fim de conter desastre ainda maior

ONDE FICA o fim da picada? A desordem nas finanças mundiais acaba de dar sentido concreto à metáfora: sem meias palavras, propõe-se que o fim do caminho agora é a estatização, ainda que provisória, de vastas partes do sistema financeiro euroamericano, além da intervenção estatal maciça nas relações entre credores e devedores do sistema financeiro privado.
A anarquia financeira, a demorada implementação do pacotão dos EUA e a desordem política na Europa provocam corridas. Correntistas sacam seus depósitos na Europa, americanos sacam de seus fundos de investimento, clientes de "hedge funds" sacam suas aplicações. O resultado é pânico ainda maior, seca de crédito e venda em massa de ativos financeiros para atender demandas de saques e a perdas decorrentes da liquidação de ativos, queima total que atinge também ativos brasileiros.
Em parte, a estatização já está acontecendo, como se vê em casos pontuais nos EUA e na Europa. De resto, os maiores BCs do mundo são agora provedores iniciais de crédito para um sistema financeiro privado que congelou de terror.
A solução estatizante terminal foi apresentada da maneira mais simples e direta num editorial de hoje do diário financeiro britânico "Financial Times", mas está por toda parte -em artigos de economistas de ponta, de grandes gestores de fundo e de grandes bancos. Diz o jornal, no texto "Como salvar os bancos europeus": "Encerrar o pânico vai requerer algo mais: a recapitalização do setor bancário. Na falta de uma fila de investidores ávidos, a recapitalização ocorrerá ou por meio da conversão forçada de dívida em ações ou de governos comprando eles mesmos uma parte [dos bancos]".
Isto é: 1) governos devem obrigar os credores a transformar os créditos que têm a receber dos bancos em participação no capital dessas instituições financeiras; 2) governos têm de comprar bancos alquebrados que ainda podem ser salvos. Paul Krugman apresentou a mesma proposta ontem, num "paper" cheio de equações, mas de conclusão simples, que tem repetido faz dias: o governo tem de levar partes dos bancos a fim de recapitalizá-los.
Segundo relato de ontem do BNP Paribas, o bancão francês, o Fed (o BC dos EUA) viria a fazer empréstimos sem garantia para bancos, além de já pagar juros sobre reservas que os bancos têm de manter no banco central: o Fed se alavanca e explode o seu "limite" de empréstimos. "O Fed está morto. Viva o Ben Bernanke Capital Management", diz sarcasticamente o banco, comparando o Fed a um notório e gigantesco "hedge fund" falido em 1998, o Long Term Capital Management (LTCM).
O BNP relata rumores de que os EUA vão recapitalizar bancos quebrados, subsidiar mais fusões & aquisições bancárias e emprestar dinheiro aos fundos de investimento ("money markets funds"), principais fornecedores de crédito de curto prazo para empresas. O UBS e o Citi sugerem que os governos ofereçam garantias gerais para todos os depósitos e, também, programas estatais de recapitalização de bancos privados. Todo mundo sugere a criação de câmaras de compensação para dar ordem a mercados como os de derivativos de crédito e outros papéis enrolados. Etc. É o fim da linha.

vinit@uol.com.br

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