Eleito em abril, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, conseguiu quebrar 60 anos de hegemonia do Partido Colorado, incluindo os 35 da ditadura Stroessner. Ex-bispo, Lugo deixou seu trabalho junto aos camponeses para liderar uma ampla aliança de partidos políticos e grupos sociais, concorrendo à Presidência com as promessas de fazer a reforma agrária e combater a pobreza, entre outras.
Venceu, mas com base política extremamente fragmentada, que depende em grande parte da tradicional agremiação de oposição, o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA). O novo presidente viu-se assim pendurado em promessas audazes e sem apoio político firme para executá-las. Lançou mão então de outro trunfo de campanha para unir as forças políticas: a reivindicação de renegociar o contrato da usina binacional de Itaipu — mais precisamente o reajuste do preço pelo qual o Paraguai vende ao Brasil o excedente da energia —, para investir no combate à pobreza.
O Brasil foi pintado como o grande vizinho insensível às necessidades do parceiro menor. O governo brasileiro reagiu adequadamente, reiterando ao Paraguai que a renegociação do contrato está prevista apenas para 2023. Ofereceu, porém, outras formas de compensação, como a construção de uma linha de transmissão até Assunção. Mesmo antes da posse, numa questão que também atinge o Brasil, Lugo viu explodirem demandas reprimidas na sociedade paraguaia, em alguns casos, ou tentativas inescrupulosas de tirar partido da situação, em outros.
Começaram as invasões de terras, muitas pertencentes a brasileiros — os brasiguaios — por camponeses em busca de espaço para lavrar, ou por agitadores atrás de vantagens. O mau exemplo do MST é imitado por lá. A reação do governo paraguaio tem sido débil. Lugo tentou jogar uma nuvem sobre as dificuldades alinhando-se ao grupo nacional-populista sul-americano, comandado por Hugo Chávez.
Mas parece que já foi o tempo, embora recente, em que a diplomacia brasileira deixava prevalecer as afinidades ideológicas da cúpula do governo com os chamados “hermanos”.
Mesmo porque o país teve amargas experiências na Bolívia e no Equador. Agora mesmo, devido a ações unilaterais de Quito em relação a empresas brasileiras, o Itamaraty não deu margem a dúvidas de que, no limite, as relações comerciais com aquele país podem ser cortadas. Com a mesma firmeza, Brasília deve deixar claro que a integridade dos brasileiros e de suas propriedades no Paraguai é de responsabilidade de Assunção. E que ela será cobrada no devido tempo.
Entrevista:O Estado inteligente
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