OBrasil tem usado os instrumentos de política monetária para evitar que a crise mundial de crédito atinja o país mais fortemente.
A liberação de depósitos compulsórios dos bancos para financiamentos direcionados à agricultura e a utilização temporária de parte das reservas cambiais para suprir de capital de giro exportadores são iniciativas que podem manter as cadeias produtivas em funcionamento quase normal, enquanto o mundo dos negócios vai se ajustando em todos os cantos do planeta.
Os cenários de curto prazo se alteraram, e o risco de recessão se tornou mais ameaçador do que a própria inflação — haja vista os sinais negativos do comportamento das economias americana e européia.
Se havia antes uma pressão sobre os preços devido a excessos de demanda, o que preocupa agora as empresas é a possibilidade de os mercados não virem a absorver a oferta de bens e serviços para a qual se programaram. Nesse sentido, é de se esperar que a competição se acirre interna e externamente, o que facilitará o alcance das metas de inflação no próximo ano. O recuo nos preços, em dólar, das commodities ou até dos produtos manufaturados exportados pelo Brasil pode ser compensado pela desvalorização que o real tem sofrido em relação às principais moedas estrangeiras, como reflexo também do ressurgimento de um déficit em transações correntes no balanço de pagamentos do país. Mas se a desvalorização do real favorece as exportações, pelo lado das importações encarece bens de capital (máquinas e equipamentos), matériasprimas e bens intermediários, o que, se confirmado, elevará os custos de produção de segmentos mais dependentes de tais insumos.
Desse modo, em sua próxima reunião, no fim deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá certamente grande dificuldade para antever os desafios que serão enfrentados pela economia brasileira.
Já se discute, por exemplo, se a alta prevista para as taxas de juros básicas ainda é necessária, diante de tudo que vem acontecendo. Mas em que medida a desvalorização da moeda pode impulsionar a inflação? São questões complexas que o Copom precisa decodificar, sem pressões.
Certo é que não se pode atribuir à politica monetária toda a responsabilidade para proteger o país da crise. Da política fiscal, controlada formalmente pelo Ministério da Fazenda, precisará vir forte contribuição.
Na maior crise mundial desde 1929, a condução da economia não pode viver mais a dualidade que tem sido a marca do governo Lula: de um lado, os defensores da gastança e, de outro, a trincheira dos que defendem a estabilidade da economia.
Entrevista:O Estado inteligente
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