Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 09, 2008

Risco de quebra de empresas é tema de reunião

O ESTADO DE S PAULO,

Estimativa do governo é de que meia dúzia de companhias exportadoras esteja nessa situação

Lu Aiko Otta, Tânia Monteiro e Renata Veríssimo


O risco de quebradeira entre empresas exportadoras, que fizeram operações semelhantes às da Sadia e da Aracruz e agora amargam pesadas perdas, foi tema da reunião de ontem do grupo de coordenação política, do qual fazem parte o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente, José Alencar, e um grupo de ministros. Estimou-se, no encontro, que meia dúzia de empresas estaria nessa situação. A falta de liquidez no comércio exterior foi considerada o reflexo mais grave da crise internacional na economia brasileira. O sistema bancário continua sólido.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, informou na reunião que retomaria a venda direta de dólares das reservas internacionais, como forma de "irrigar" o mercado. Surgiram, porém, questionamentos sobre se o governo não estaria auxiliando especuladores com essa medida.

"O presidente Lula disse que não tem interesse que nenhuma empresa quebre, por isso mandou liberar recursos", relatou ao Estado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. "Mas ele frisou que não é para torrar as reservas internacionais para alimentar a especulação." José Alencar defendeu posição mais dura. Para ele, as empresas que apostaram na cotação errada do dólar deveriam arcar com as conseqüências e não caberia ao governo socorrê-las. Meirelles disse então que não se tratava de dar dinheiro a elas, mas garantir liquidez com os meios existentes. Ele ponderou ainda que de nada serve manter um nível elevado de reservas, se não for possível utilizá-las em caso de necessidade.

"No final, concordamos que, se precisar de dinheiro de banco oficial para emprestar, é legítimo fazer isso", disse Bernardo. Na sua avaliação, a margem para especulação não é elevada, pois operar com dólares num quadro tão volátil como o atual é manobra arriscada. Além disso, comprar moeda estrangeira iria requerer grandes volumes em reais. "Não tem tanta gente com bala na agulha", afirmou.

Meirelles afirmou na reunião que o Banco Central não fará a venda de dólares tendo como objetivo manter a cotação em um nível preestabelecido. Ele também não especificou quanto das reservas vai gastar.

A reunião de coordenação tinha como tema principal o resultado das eleições municipais. Mas, a pedido de Lula, Meirelles fez uma exposição de cerca de 30 minutos sobre a crise. O foco de preocupação está na Europa, onde as tentativas de coordenação na ajuda às instituições financeiras falharam. É, portanto, mais difícil avaliar o quadro no velho continente do que nos Estados Unidos.

Meirelles disse ao grupo de coordenação política que a medida provisória anunciada na segunda-feira dando ao Banco Central mais poderes para ajudar bancos em dificuldades é preventiva. "O maior temor é de que haja contaminação no sistema financeiro, o que não houve", disse um ministro.

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