O fato é que o corte do compulsório não chegou a compensar as perdas na captação de recursos e o aumento dos gastos dos bancos. Só excepcionalmente eles conseguem captar recursos no exterior e tiveram de aumentar as despesas com a remuneração das aplicações em CDBs e Recibos de Depósito Bancário, que cresceram fortemente em razão da fuga das aplicações em ações. Paralelamente, as margens a serem recolhidas à BM&F, nas operações no mercado futuro, aumentaram muito nessa fase de volatilidade do mercado.
Está aí parte da explicação para a oferta de crédito não ter aumentado com a liberação do compulsório, porque ainda vai demorar para que o aparelho circulatório das instituições financeiras entre em melhor funcionamento.
Pode-se perguntar por que o crédito consignado apresenta uma redução ainda maior do que as outras formas de crédito pessoal.
No final do mês de agosto, o saldo do crédito consignado era de R$ 74 bilhões, a maior parte para aposentados e pensionistas. Essas operações representavam 54,9% do crédito pessoal que, nos oito primeiros meses do ano, cresceu 20,1%, ante 14,6% do crédito consignado.
Os mutuários preferiam o crédito consignado, com taxa de 28,5% ao ano, aos outros tipos de crédito pessoal, com taxa de 70,6% - mas estava nestes o interesse dos bancos.
Antes da crise de liquidez, já se verificava um menor crescimento do crédito consignado por causa de dois fatores: uma redução, pelo governo, do limite de endividamento dos aposentados, de 30% para 20%, e uma remuneração fixa enquanto a taxa Selic aumentava.
No momento em que escasseiam os recursos para o crédito, os bancos dão preferência a empréstimos cuja remuneração é maior, mesmo perdendo operações de risco menor. É uma orientação a lamentar, porque, num momento de maior pressão inflacionária, é um fator de aumento do custo do crédito.