Nova York. A relação entre os Estados Unidos e a China nos últimos dez anos foi a coisa mais importante na economia mundial, na avaliação do historiador escocês Niall Ferguson, professor de Harvard. Ele e Moritz Schularick, da Universidade Livre de Berlim, criaram uma entidade chamada “Chimerica” trocadilho com o nome dos países e a palavra quimera em inglês para exemplificar essa simbiose, que representaria 13% da superfície terrestre, 1/4 de sua população, 1/3 do PIB mundial e mais da metade do crescimento econômico nos últimos seis anos. Esse “relacionamento quase perfeito” se baseava, segundo Ferguson, no fato de que uma metade poupava para que a outra metade gastasse, ou mais especificamente, o “apetite por poupança” asiático tornou mais barato os financiamentos de imóveis.
Ferguson ressalta que a poupança nos Estados Unidos declinou de mais de 5% do PIB em meados de 1990 para virtualmente zero em 2005, enquanto a chinesa aumentou de menos de 30% para 45% do PIB no mesmo período.
Uma inevitável conseqüência da crise financeira será a redução do crescimento econômico dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que a China poderá continuar crescendo a 8% ao ano com base em seu mercado interno e pelos investimentos governamentais em infra-estrutura interna, ressalta Ferguson.
Com o fim da “Chimerica”, a China poderá explorar outras esferas de sua influência global, especula Ferguson, “desde a Organização de Cooperação de Shangai que reúne China, Russia e quatro países da Ásia Central, até o nascente império chinês na África rica em commodities”.
O economista brasileiro Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do Banco Central que atua no mercado financeiro em Nova York, vê também essa possibilidade de a China se voltar mais para seu mercado interno, se desligando paulatinamente do dólar: “No momento atual a China não tem muita opção, mas pode ir mudando. Se ela assumir o papel de sustentar a economia global, vai ter maior gasto doméstico e menor receita das exportações, e uma das opções é vender reservas e aplicar na própria China, ou mesmo parar de acumular reserva e gastar no seu investimento”, lembra ele.
Com isso, os Estados Unidos teriam maior dificuldade para ampliar sua dívida externa e se financiar. A China é o segundo maior comprador de bônus do Tesouro americano, só perdendo para o Japão. Ou, como diz Niall Ferguson, “os Estados Unidos poderiam perder a facilidade conveniente de ser capaz de pegar emprestado do exterior a juros baixos na sua própria moeda”.
Paulo Vieira da Cunha vê o Brasil da mesma forma, parando de acumular reserva e se voltando mais para o financiamento doméstico.
“Na verdade, se o Brasil se recuperar mais rápido do que os Estados Unidos, vai atrair mais o investimento estrangeiro”, ressalta.
O sociólogo e historiador brasileiro Hélio Jaguaribe considera que neste contexto abre-se para um país como o Brasil “um maior espaço de permissibilidade internacional”.
Mas para dele se valer satisfatoriamente “o Brasil precisa acelerar seu processo de desenvolvimento, notadamente na dimensão cultural, e empreender uma séria reforma do sistema político eliminando os importantes resíduos clientelistas que nele subsistem e fortalecendo o sistema partidário”.
Para Hélio Jaguaribe, “nosso sistema partidário continua muito subdesenvolvido.
Necessitamos que se configurem com clareza os programas de cada partido e que se reduza significativamente o número de partidos existentes, para se alcançar sua limitação a não mais de três”.
Na sua análise do quadro partidário brasileiro, Jaguaribe diz que PSDB e o PT “constituem núcleos a partir dos quais podem emergir dois importantes partidos”.
Restaria um espaço a ser preenchido “por um importante partido conservador e pelos declinantes resíduos do clientelismo”.
Jaguaribe vê a inclusão no Conselho de Segurança da ONU de países como África do Sul, Brasil, China, Índia e México, “uma necessidade” nesse novo quadro geopolítico internacional “que terá de ser atendida a não longo prazo”.
O historiador Niall Ferguson acha que “pode estar chegando ao fim” a era em que o dólar era a única moeda de reserva internacional, e lembra a crise da libra inglesa.
“A principal razão foram as grandes dívidas que a Inglaterra fez para financiar suas guerras pelo mundo.
E a segunda razão foi a desaceleração do crescimento da economia nas décadas do pós-guerra”.
Se a principal conseqüência fiscal da crise financeira for um aumento grande das dívidas do governo federal, diz ele, os Estados Unidos podem ficar em situação similar, e o dólar pode seguir a libra e perder a condição de moeda de reserva.
O economista Paulo Vieira da Cunha lembra que o processo da transição da hegemonia da Inglaterra para os Estados Unidos levou décadas, e houve a concorrência entre libra e o dólar como moedas de reserva por quase 60 anos. E, sobretudo, “não está nada claro se a China vai assumir uma posição de maior responsabilidade de manter o crescimento da economia global e extrair a contrapartida de estar assumindo esse papel”.
Hoje em dia, ressalta Vieira da Cunha, não há nenhum mercado financeiro que chegue perto do mercado americano, e a única alternativa de moeda de reserva é o euro, “mas a Europa não está em uma situação estrutural muito melhor do que a americana, talvez esteja até pior”.
Entrevista:O Estado inteligente
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