Após cada grande crise, criam-se mecanismos de mais regulação e mais controle. Sobre isso, há mais problemas do que solução.
A questão central nesse capítulo consiste em saber o quê e como controlar. As instituições financeiras mais controladas são os bancos e, no entanto, foram eles que aprontaram a maior parte da lambança. Fingiram que estavam dentro dos conformes, mas, agora se sabe, alavancaram suas operações de crédito e de aplicação para a altura de 40 vezes seu patrimônio líquido, quando o limite técnico é alguma coisa entre 10 e 12 vezes. Capitalizar os bancos, essência dos pacotes da Inglaterra, da área do euro e dos Estados Unidos, significa reforçar-lhes a espinha dorsal para dar-lhes capacidade de suportar a carga dos ativos.
Mas já se viu que não basta enquadrar os bancos comerciais. Bancos de investimento (como o Lehman Brothers e o Bear Stearns) também são capazes de desestabilizar a economia mundial. O mesmo se pode dizer de companhias hipotecárias (como a dupla Fannie Mae e Freddie Mac) e seguradoras (como a AIG). E nada do que se viu ocorreria se não se contasse com a desastrada colaboração das agências de classificação de risco (especialmente a Moody?s, a Standard & Poor?s e a Fitch), que distribuíram certificados AAA para títulos que hoje são considerados "lixo tóxico". Até mesmo fundos de hedge são hoje considerados instrumentos de desestabilização. Aliás, o Long-Term Capital Management (LTCM), em 1998, provocou uma catástrofe que só não derreteu o sistema porque o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) interveio a tempo e obrigou os principais bancos americanos a absorver os prejuízos. Então, se for mesmo para regular tudo, vai ser preciso montar um gigantesco sistema de fiscalização e supervisão.
Nessa crise, não houve opção e os grandes bancos centrais extrapolaram em muito seu mandato. Forneceram empréstimos de liquidez a bancos de investimento, compraram carteiras de títulos privados e chegaram a injetar na veia de empresas recursos lastreados em commercial papers (promissórias de empresas). Enfim, está em questão a amplitude das funções dos bancos centrais.
E isso não resolve tudo porque já se viu que o mercado financeiro está globalizado e a crise pede instituições reguladoras globais. Dessa vez, ainda foi possível coordenar uma ação entre os principais governos e bancos centrais. Mas já se sabe que não se pode deixar um pedaço importante do sistema global sem regulação e supervisão. E aí fica mais difícil levar a tarefa a cabo porque não há instituições multilaterais em condições de xerifar o mercado financeiro em dimensões globalizadas. E, se alguma passasse a ter essas condições, teria de garantir mandato dos Estados nacionais para isso. Enfim, uma coisa é exigir que o gato circule com guizo. Outra, bem diferente, é amarrá-lo no rabo do bicho.