Crash é produto do pânico. E quando é o pânico que comanda os mercados, como aconteceu ontem, já não são mais decisões técnicas que podem virar o jogo. Nesse caso, ou se espera que o fogo apague sozinho depois que acabar a matéria carburante, ou se pede ação. Se for ação, não pode ser puramente técnica. Tem de ser política.
A expectativa de que alguma ação política viesse a ser tomada foi o fator que atenuou a queda das bolsas nos Estados Unidos e também aqui no Brasil.
Ao final do dia, algumas decisões políticas foram anunciadas pelos ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais dos sete países mais ricos do mundo, o Grupo dos Sete (G-7). Eles estão reunidos em Washington não propriamente para cuidar da crise, mas para dar cumprimento à pauta tradicional por ocasião da conferência anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.
Há algumas semanas havia pessimismo, mau humor e turbulências daí provenientes. Mas não havia pânico. O pânico começou a se alastrar em 15 de setembro, quando o governo americano decidiu entregar o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers, à sua própria sorte.
Foi quando o resto do mundo, a começar pelos banqueiros, entendeu que, um a um, os bancos iriam para o saco e tratou de buscar o seu dinheiro de volta antes que fosse tarde demais.
As autoridades do G-7 não chegaram a garantir que banco não quebra e que, assim, depósitos e aplicações estão a salvo. Mas declararam formalmente que farão de tudo para capitalizar os bancos e para proteger os contribuintes.
Enquanto banqueiro não voltar a acreditar em banqueiro, o resto do mercado não terá razões para acreditar em banco. E continuará reagindo emocionalmente, como aconteceu nesses últimos dias nos quatro cantos do planeta.
Ontem a Associação dos Bancos Britânicos, que reúne 230 bancos do Reino Unido, avisou que as operações de financiamento interbancário em libras foram restabelecidas. Esse foi o resultado tanto do pacote inglês, de US$ 875 bilhões (portanto maior do que o americano), que na quarta-feira foi decidido pelo governo de Londres, como, mais do que isso, da decisão de garantir os depósitos bancários.
Falta saber como serão recebidas as declarações das autoridades do G-7. O fato de deixarem explícito que não será necessário fazer mais do que está sendo feito e foi prometido para reverter a crise pode ser entendido que a situação não é tão grave. Se for assim, a calma poderá voltar aos mercados.
Mas podem também acelerar a percepção de que não há nem acordo de diagnóstico sobre a gravidade da crise nem acordo político que defina um plano para enfrentar o problema.
A reabertura dos mercados segunda-feira vai dizer o que prevalecerá.