O Brasil já foi atingido pela crise americana. E não pela queda da bolsa, mas pelo mercado de crédito.
O risco país subiu 48% desde 1º de setembro, o dólar já subiu 29,5% desde 30 de julho, a bolsa caiu 37% desde 20 de maio. O mais perigoso é o que acontece com o crédito: o banco não diz que cortou a linha, apenas manda a empresa esperar um pouco.
Diz que o crédito existe, mas não está disponível.
Além disso, está havendo uma tendência mundial de desalavancagem. Explicando: bancos operavam com um nível de concessão de crédito de várias vezes o capital. Agora, este múltiplo está caindo, está sendo reduzido.
Tem menos dinheiro para emprestar.
O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros explica que há outros fatores nessa queda geral dos ativos.
— Além da desalavancagem, há uma falta de confiança generalizada, e todo mundo está reduzindo posições.
No Brasil, a bolsa sofre os efeitos desta redução de posições, mas já sofre também esse encurtamento do crédito.
Quem explica isso é Joseph Tutundjian, especialista em comércio externo.
— O Brasil não é poupador, ele é tomador de dinheiro lá fora. Hoje, quando um empresário vai ao banco e pergunta pela sua linha de capital de giro para produzir, ouve o seguinte: “Você tem o crédito, mas ele não está disponível; segura um pouco que preciso ver como fica a minha linha de crédito no banco lá fora.” O caso mais direto é o do exportador com seus adiantamentos de contrato de câmbio, os ACCs.
— Ele vai ao banco, mostra que tem um contrato de US$ 10 milhões, por exemplo, para entregar daqui a três ou seis meses. O banco então adianta a ele esse dinheiro, com o qual ele financia a produção. Hoje, esse dinheiro não está disponível como estava antes, porque os bancos dependem das linhas tomadas no exterior. Os bancos lá fora estão sentados em cima do dinheiro, com medo de emprestar, e por isso os bancos aqui ficam em compasso de espera e o exportador tem dificuldade de fechar o câmbio — diz Tutundjian.
Como nos ACCs o risco era pequeno, os juros eram bem baratos. Aí, o exportador fechava o câmbio e aplicava aqui para ganhar com os juros altos.
— Esse ganho financeiro aumentava a rentabilidade da empresa atingida pela valorização do real. É por isso que o Brasil continuou exportando, apesar da queda do dólar. Sem esse ganho extra, ficará mais difícil — explica Joseph Tutundjian.
Luiz Carlos Mendonça de Barros explica que a interrupção de ACCs produziu um problema complicado.
— O Brasil está hoje com US$ 60 bilhões de contratos de câmbio já fechados antecipadamente.
Isso significa que, quando a exportação for feita, o dólar entra direto no banco lá de fora. Não entra dólar aqui. Como não estão sendo feitos novos ACCs, o fluxo está se reduzindo. O país pode ficar de quatro a cinco meses sem receber novos dólares de exportação, ainda que a exportação continue — diz ele.
Quem vê o saldo de setembro acha que nada está acontecendo, mas, mesmo quando tudo isso passar, a situação será diferente porque o crédito será concedido de forma mais conservadora, com custos maiores e critérios mais rígidos.
— O capital será mais caro, mais difícil e a recessão vai reduzir a exportação em volume e em valor — conta Tutundjian.
Isso sem falar no fato de que algumas empresas que precisam de capital de giro e estão sendo informadas que devem esperar um pouco podem ficar sem condição de produzir.
— Se ele não tem capital próprio, esse mercado seco pode levá-lo a parar de produzir — diz Tutundjian.
Diante disso, o governo precisa aprofundar sua análise da crise e tomar algumas providências. É espantosamente rasa a interpretação que as autoridades brasileiras estão fazendo dos efeitos da crise econômica americana. Um dia depois de admitir, pela primeira vez, que a crise era grave, a ordem do presidente Lula foi de que se garanta crédito para as compras do Natal.
Já fomos atingidos e o grande problema não é garantir que o consumo continue acelerado, mas exatamente o oposto: os consumidores precisam reduzir seu ritmo de endividamento porque o custo do dinheiro está aumentando a cada dia, e as prestações podem ficar impagáveis.
No Brasil, a avaliação que se faz é que se a crise de crédito americana reduzir os empréstimos aqui, basta criar mais linhas de financiamento no Banco do Brasil e no BNDES. Até agora, já se falou em: aumentar linhas de financiamento de exportação pelo BNDES; antecipar linha de crédito do BB para a agricultura; o BNDES financiar o pré-sal tirando limites para os créditos tomados pela Petrobras no banco estatal. Enfim, diariamente surge uma solução para algum problema que passa pelos bancos estatais.
Uma medida simples seria reduzir o nível do recolhimento compulsório ao Banco Central, que hoje é de 45% sobre depósitos à vista e de 15% sobre depósitos a prazo.
— O Banco Central está muito mole. Essa medida poderia ajudar a prevenir as medidas estranhas que outras áreas do governo estão imaginando — diz Luiz Carlos.
oglobo.com.br/miriamleitao
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COM LEONARDO ZANELLI
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