NOVA YORK. A supremacia do PMDB no quadro partidário brasileiro, e a consolidação da força política governista no Nordeste, onde a decadência do antigo PFL deu lugar ao crescimento de PT, PSB e PDT, que duplicaram o número de municípios sob seus comandos na região — tendências confirmadas no primeiro turno das eleições municipais —, seriam sinais de que o fisiologismo estaria predominando no atual quadro político brasileiro?
O cientista político Fernando Lattman Weltman, da Fundação Getulio Vargas, tem uma visão bastante pragmática sobre o PMDB, que a ele parece “menos um caso de falta de identidade ou programa do que uma combinação muito específica de vantagens e desvantagens competitivas derivadas, ao mesmo tempo, de sua grande e relativamente sólida capilaridade em todo o território nacional, de par com a falta compreensível de lideranças nacionais incontestes na legenda”.
Para Weltman, de tanto ser uma espécie de condomínio de grupos políticos locais, sem uma figura nacional que o unificasse, “ o PMDB parece que aprendeu a extrair o máximo benefício de não poder fazer o presidente, mas ser necessário a qualquer um que por lá chegue.
Como se costuma dizer: aprendeu a fazer limonada de seus limões”.
Com sarcasmo, ele diz que, “se isso é ser fisiológico, então sou forçado a reconhecer que, além de válido, isso pode ser politicamente muito interessante”.
Fernando Lattman Weltman diz que o fisiologismo é um tema “muito controverso e pouco claro”.
Deixando de lado a corrupção, que pode estar ligada ao fisiologismo, mas é tipificada como ilegal, Weltman procura uma definição de fisiologismo na política: É buscar o poder pragmaticamente? É não possuir identidade ideológica e/ou programática? Para ele, “dependendo do modo como conceituamos o ‘fisiologismo’, o PT, o PMDB e outros partidos se ajustam ou não à qualificação ” . Tanto o PT quanto o DEM e o PSDB se encaixam perfeitamente na definição deserem partidos que buscam o poder pragmaticamente, mas não na de falta de identidade ideológica.
Weltman diz que não parece claro que haja “uma oposição necessária entre pragmatismo e eficiência na competição eleitoral — coisas que talvez possam ser associadas a fisiologismo —, de um lado, e consistência ideológica e programática, de outro”.
Ele lembra que, como já propuseram outros teóricos, “a ideologia de um partido pode ser muito importante justamente por diferenciar um partido ou candidato em relação a seus concorrentes em especial, quando não há grandes divergências sobre questões de fundo e os partidos se dirigem para o centro, ou em busca do eleitor-médio, majoritário”.
Assim, diz ele, a mudança permanente de identidade “é perfeitamente natural no nosso quadro par tidário — e alhures —, em especial para partidos com vocação de poder”. Isto se daria por força, ao menos, de dois fatores “de grande plasticidade”: a) As características proporcionais e altamente competitivas do nosso sistema partidário — que facilitam o surgimento, o colapso e a mudança de status das siglas partidárias; b) O dinamismo da nossa estrutura social, essa sim, em mutação permanente e acelerada em momentos de crescimento econômico, migrações internas e abertura para a globalização.
O sociólogo Hamilton Garcia, do Centro de Ciência do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense, acha que o novo per fil popular da classe média, “despolitizado e consumista, sem sombra de dúvida embala o PT na direção do populismo, além de amputar espaços sociais de seus oponentes à esquerda (PSOL) e à direita (PSDB), cujas inscrições populares têm as marcas, respectivamente, do vanguardismo e do elitismo”.
Paulo Roberto Figueiredo, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, por sua vez, crê que os dados do primeiro turno reforçam sua tese de que “há um descolamento entre o ‘lulismo’ e o ‘petismo’, dada a postura personalista de Lula, que talvez impeça uma maior institucionalização do petismo como força partidária ideológica, independentemente do carisma do presidente”.
Ele ressalta que muitas pesquisas apontam queda da identificação partidária do PT. Para ele, a nova classe média que nasceu nos últimos anos no país, fruto da distribuição de renda através de programas sociais e aumentos reais do salário, “talvez seja muito mais ‘lulista’ que petista — o que é um problema grave para o partido, dado que ele perdeu parte de suas tradicionais bases nas grandes cidades”, lembrando que o PT não governa hoje nenhum estado do Sul-Sudeste, que outrora foi sua principal base.
O dilema do PT seria, na visão de Figueiredo, recuperar parte das bases mais ideológicas hoje perdidas, no caso de uma nova inflexão à esquerda, que “implicaria também correr riscos junto aos segmentos populares ‘lulistas’, que não são necessariamente petistas, uma base social, em alguma medida, conservadora”.
Mas, manter esses segmentos populares “lulistas”, às custas do eleitorado tradicional, analisa ele, “reforçaria ainda mais a dificuldade do partido de construir um projeto efetivamente partidário, que não fique a reboque única e exclusivamente de Lula”.
Entrevista:O Estado inteligente
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