Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 19, 2008

Erro de cálculo RODRIGO CONSTANTINO

OUTRA OPINIÃO


O terremoto financeiro segue causando destruição mundo afora, enquanto o governo americano tenta de tudo: injeta dinheiro, nacionaliza empresas em dificuldades, socorre bancos. Mas nada parece surtir efeito. A questão crucial é: será que o governo não é justamente parte do problema, e não da solução? Em momentos de crise grave, a busca por bodes expiatórios é muito comum. Os alvos de sempre acabam levando a culpa: os “especuladores” e o “livre mercado”.
Mas a verdade é que podemos encontrar impressões digitais do governo em toda a cena do crime.
Parte das causas da crise pode ser localizada em 1998. Enquanto o mundo enfrentava as crises asiática e russa, o Fed, banco central americano, participava de uma operação de salvamento do Long Term Capital Managment. A idéia era a mesma de sempre: o fundo era “grande demais para quebrar”.
Quando o governo garante o capital daqueles que arriscaram demais e erraram, funciona como uma espécie de rede de segurança de um circo.
É evidente que os trapezistas irão ousar mais sabendo que há uma rede para protegê-los. Além disso, Alan Greenspan, então presidente do Fed, partiu para um agressivo programa de corte de juros. A taxa básica chegou a 1% ao ano. A expansão monetária inundou o mundo de dólares.
da taxa de juros criou incentivos à busca por mais risco pelos investidores. Como a criatividade dos mercados financeiros é enorme, vários produtos “exóticos” foram criados. Pessoas que não tinham condições de comprar casas passaram a obter hipotecas de alto risco. Além disso, a garantia estatal por trás das gigantes imobiliárias Fannie Mae e Freddie Mac fez com que estas assumissem um grau de alavancagem absurdo, inviável sem o respaldo do governo.
Diante da situação atual, em parte causada pelo governo, todos se voltam para o “messias salvador”: o próprio governo. Investidores demandam medidas urgentes para resgatar bancos, cobram o uso efetivo da “rede de segurança”. Como já foi dito, é o socialismo dos ricos, em que os lucros são privados e os prejuízos, socializados. O pagador de impostos é chamado para honrar a fatura da festa dos outros.

RODRIGO CONSTANTINO é economista

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