Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 17, 2008

De olho na reforma Celso Ming

A rigor, desde 1944, quando conseguiram impor seu jogo na Conferência de Bretton Woods, os Estados Unidos não deixaram de liderar as regras do sistema financeiro global. Mas agora estão na retaguarda.

Em 1998, o então presidente Bill Clinton entendeu que a ordem global das finanças precisava de reforma. E convocou uma iniciativa mundial para montar a "nova arquitetura financeira". O próprio governo americano se desinteressou do projeto por entender que não havia o que mudar.

Mas veio esta crise e, com ela, um novo consenso: o de que é preciso ir fundo na reforma das finanças mundiais. Há algumas semanas, com mais insucesso do que sucesso, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, tentava engajar os chefes de Estado da região para realizar uma cúpula com esse objetivo, mas encontrou forte resistência da chanceler alemã, Angela Merkel. Depois, o mercado financeiro derreteu e novas necessidades se impuseram.

Quarta-feira, o Grupo dos 27, que inclui os países da zona do euro mais a Inglaterra, decidiu respaldar o anteprojeto do primeiro-ministro inglês, Gordon Brown. Este vinha sendo considerado um dos patos mancos (lame ducks), que é como nos Estados Unidos são conhecidos os dirigentes políticos enfraquecidos ou pelo final de mandato (como Bush) ou pela deterioração das condições do exercício do poder. Pois Brown deixou de ser um pato manco quando foi o primeiro a entender a natureza da crise que hoje varre o mundo e tratou de atacar seu cerne por meio da capitalização dos bancos. Hoje todos os pacotes que vão sendo montados para resolver o problema têm as digitais de Gordon Brown.

Os líderes europeus viram nessa proposta uma nova oportunidade de tomar a dianteira política aos Estados Unidos, pelo menos na recriação de fundamentos para o jogo financeiro.

O anteprojeto de Brown tem apenas cinco páginas e avança em três campos. O primeiro consiste em montar centros de fiscalização e supervisão da atividade das 30 maiores instituições financeiras globais. O segundo, em reformar o Fundo Monetário Internacional e transformá-lo num xerife contra práticas perigosas. Administrará o que deverá ser o Sistema de Alerta Preventivo Global, cuja função será denunciar a formação de bolhas e de riscos sistêmicos, como cão farejador de cocaína nos aeroportos. O terceiro ponto será reforçar a regulação. Serão instituídas regras rígidas que terão de ser observadas por todos os países.

Desde já podem ser feitas algumas objeções prévias. Não dá para dizer que são sempre as grandes instituições financeiras as responsáveis pelas calamidades. O inglês Northern Rock, o americano Lehman Brothers e o islandês Kaupthing são instituições pequenas, mas sua quebra provocou um pandemônio.

Pelo seu poder destruidor, parece inevitável que sejam enquadradas umas tantas instituições não financeiras como seguradoras, fundos de hedge, fundos de investimento e agências de classificação de risco. Além disso, como evitar problemas futuros se os paraísos fiscais também não forem enquadrados?

Sem respostas para essas e outras objeções, o projeto Brown corre o risco de não passar do estágio de embrião.

Entenda

Nada disso - De onde vem o circuit breaker da Bolsa - o sistema que pára as negociações por meia hora sempre que a queda do dia atinge 10%?

Hoje se repete que essa parada vem para dar um tempo para deixar que a racionalidade volte ao mercado.

Mas não é isso. Ele foi instituído há alguns anos, quando os computadores estavam programados para expedir ordens automáticas de venda quando as cotações chegassem a determinado nível. A idéia era dar tempo para que os computadores fossem temporariamente desativados e os interessados pudessem comandar as decisões.

Arquivo do blog