Foram necessárias duas guerras e uma catástrofe econômica (a Grande Depressão) para que os maiorais do mundo se reunissem em 1944 em Bretton Woods (Estados Unidos) para disciplinar o sistema global de pagamentos. E, no entanto, essa regulação não durou mais do que 27 anos. De lá para cá, nada mais foi feito para evitar novas crises do capitalismo.
O estouro da bolha das hipotecas de alto risco criou novo pandemônio e, com isso, impulsos das autoridades para que um novo sistema global de regulação seja montado. No sábado, o presidente americano, George Bush, recebeu, em Camp David, residência de campo oficial, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o presidente rotativo da União Européia, o português José Manuel Durão Barroso, e anunciou a convocação de reuniões de cúpula para impor cabresto aos mercados.
Sarkozy pareceu disposto a reeditar o voluntarismo de Catarina de Sena (Io voglio), para quem querer era poder. "A Europa quer (a regulação), a Europa vai obtê-la", disse. Mas as coisas não são tão fáceis.
O encontro de Camp David mostrou divergências entre europeus e americanos em torno do projeto. Os europeus propõem um organismo supranacional que fiscalize e supervisione os bancos. Os Estados Unidos não querem ouvir falar de coisas assim. Imaginam que esse supercão de guarda possa vir a ser pilotado por burocratas suspeitos, como os da ONU, e, assim, seus bancos acabariam xeretados por inimigos em potencial como islâmicos, russos e venezuelanos.
Também desconfiam de que os europeus queiram tirar proveito de um momento de fragilidade do país para contrabandear propostas social-democratas para dentro de instituições reguladoras do capitalismo.
A questão se complica ainda mais quando se pretende definir que instituições terão de ser reguladas e como. Ficou claro que os bancos não podem turbinar. Acima de 10 a 12 vezes seu patrimônio, não podem nem emprestar dinheiro nem distribuir garantias. Ou seja, têm de respeitar os limites de capital para o tamanho dos seus ativos definidos nos Acordos de Basiléia.
Mas esta crise mostrou que não são apenas os bancos comerciais que precisam de enquadramento. Pelo estrago que causaram, é preciso incluir aí pelo menos cinco categorias: bancos de investimento (como o Lehman Brothers); companhias de crédito imobiliário (como as gêmeas Fannie Mae e Freddie Mac); seguradoras de crédito (como a AIG); fundos de hedge (como o LTCM); e agências de análise de risco (como a Moody?s e a Fitch). Os líderes europeus querem também o fim dos paraísos fiscais (como as Ilhas Cayman e Mônaco).
Isso não é tarefa que se conclua em sete dias, como a criação do mundo. Veja a observação do analista Sebastian Mallaby ontem no Washington Post: "Foram necessários cinco anos, e não um punhado de fotografias de reuniões de cúpula, para negociar os critérios de segurança bancária denominados Basiléia 2. E, no entanto, o resultado disso foi o que se viu..."
Para cima - O presidente do Fed, Ben Bernanke, defendeu ajuda oficial aos mutuários em dificuldades para honrar seus financiamentos hipotecários. É a política fiscal fazendo o que a política de juros já não consegue. As bolsas festejaram.