Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 11, 2008

Auto-Retrato César Cielo


Iwi Onodera/Ego


Medalha de ouro nos 50 metros livres em Pequim, o nadador César Cielo aproveita um intervalo nos treinamentos para curtir os 21 anos e os louros – e louras, mas morenas também – da vitória. Com dieta básica de dois hambúrgueres e porção tripla de fritas, reconhecido aonde vai e objeto de muitas lágrimas rememorativas, Cielo falou à repórter Juliana Linhares sobre a vida depois do ouro e antes do Mundial de Natação, no ano que vem.

César Cielo, você ainda está no céu?
Ah, estou, né?

Como são os seus treinos depois da Olimpíada?
Bem mais leves. Nos 167 dias que antecederam os Jogos, eu fazia dois treinos de natação por dia, de três horas cada um, e ainda outro de musculação, de domingo a domingo. Nunca fui dormir depois das 9 da noite. Agora, tem dia que eu nem treino, e fim de semana é sagrado. O melhor é poder ficar na frente da TV até a meia-noite.

A alimentação também mudou?
Muito. Nesses dias, meu almoço foram dois hambúrgueres duplos, três pacotes de batata frita e refrigerante. Durante minha preparação, eu tinha de tomar um suco horroroso, que misturava tomate, brócolis e espinafre, duas vezes ao dia, junto com as refeições principais. No almoço e no jantar eu comia um pacote de macarrão, legumes e quatro peitos de frango ou quatro filés de peixe. Ao contrário da do Michael Phelps, minha alimentação era bem natureba.

Você ficou com fama de chorão?
O pior é que sim. Todo dia, alguém vira para mim e fala: "Quando te vi chorando na televisão, chorei junto". Mas aquele choro durante o Hino Nacional foi de alívio também. Eu tinha sofrido muito, achava que não ia conseguir nadar o que eu precisava. Ficava angustiado e ligava para os meus pais chorando. Chamei até minha mãe para ficar comigo nos Estados Unidos e me dar apoio.

Como vai no quesito sucesso com as mulheres?
As coisas estão melhorando. Eu nunca tive uma namorada, nem sei o que é isso. Na universidade americana onde eu treino e estudo, os atletas fazem um pacto de não beber nem namorar durante as competições mais importantes. Tudo para não gastar energia. A gente assina um documento e tem de colar o papel no armário do vestiário. Eu entrei no pacto e fiquei bem-comportado. Agora é que estou começando a curtir.

E beber, pode?
Até posso, mas a gente fica tanto tempo sem colocar álcool na boca que perde até o gosto pela coisa. Tenho saído nas baladas aqui no Brasil e, para agüentar a noite sem dormir, encho a barriga de guaraná ou energético. Até que engana bem, as pessoas pensam que é cerveja.

Como era o clima na Olimpíada?
Nas provas de 50 metros, acontece uma coisa muito louca. Como a prova é muito curta, dura cerca de 21 segundos, os atletas já querem começar a briga fora da piscina. Então, fica um tentando intimidar o outro. Fazemos careta, damos soco no ar, parecemos uns loucos. Eu me bato inteiro. É um pouco para "acordar" os músculos, mas o barulho dos tapas termina tirando a concentração dos outros nadadores. Eles detestam. Meu técnico diz que é para eu me bater cada vez mais.

Não teve nem uma festinha para relaxar?
Eu não fui, mas elas aconteciam. Alguns atletas conseguiam bebida, não sei como, e faziam festas nos quartos. Eu estava muito bitolado nas provas. Nem do computador eu chegava perto. Tinha medo de acessar a internet e achar alguma notícia que me tirasse do foco. Minha única distração era fazer longas caminhadas pela vila. Ah, e, claro, falar de mulher com os outros atletas brasileiros.

A próxima competição?
É o Mundial de Natação, em julho, em Roma. Vai ser a mesma loucura tudo de novo.

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