Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Lula, o doublé trapalhão

BLOG-Noblat 7/1


Lula, o doublé trapalhão

É no que dá Lula se meter a coordenador político do governo. Mais de uma vez nos últimos cinco anos ele chegou para o articulador de plantão (José Dirceu, Aldo Rebelo, Jacques Wagner ou Mares Guia) e disse: "Deixe comigo". No caso do atual, José Múcio Monteiro, ministro das Relações Institucionais, sequer disse isso. Resultado? Deu merda.

Em um governo normal, digamos assim, comandado por um presidente normal, seria inconcebível o anúncio de medidas econômicas de forte impacto na vida das pessoas e destinadas a provocar barulho no Congresso sem que o ministro encarregado de se entender com deputados e senadores fosse consultado antes a respeito. E pudesse opinar sobre a conveniência delas.

Pois José Múcio não foi. A direção do Banco do Brasil, por exemplo, também foi pega de surpresa. Lula telefonou para seu principal conselheiro político somente depois que as medidas haviam sido anunciadas. Foi um ato de gentileza de Lula inútil e grosseiro na linha da soberba e da falta de bons modos com as quais costuma tratar seus auxiliares. Ele não quis ouvir José Múcio desaconselhá-lo a fazer o que fez.

Santo Deus! Como pode alguém que manifestara há pouco sua "ojeriza" a pacotes econômicos desembrulhar um da noite para o dia? Como pode taxar de "loucura" o aumento da carga tributária para logo em seguida aumentá-la? Como pode celebrar o espetáculo inédito do crescimento do consumo nunca visto antes na história deste país e adotar duras providências capazes de esfriá-lo?

Ora, pensando melhor, quem se orgulha de ser uma "metamorfose ambulante" pode, sim, dizer uma coisa e fazer outra. Para montar seu primeiro governo, Lula autorizou José Dirceu, futuro ministro da Casa Civil, a acertar-se com o PMDB. Quando tudo estava nos trinques, desautorizou o principal responsável por sua eleição e preferiu comprar no varejo o apoio de pequenos partidos. Deu no quê? No mensalão.

Aí Lula decidiu interferir na eleição do presidente da Câmara dos Deputados mal havia subido pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto. O problema era simples: unificar o PT em torno de um candidato único. Fracassou. Deu no quê? Na eleição de Severino Cavalcanti (PP), que renunciaria ao cargo e ao mandato para não ser cassado por quebra de decoro. Embolsara um suborno merreca do dono de um restaurante.

Aldo Rebelo (PC do B) foi um coordenador político do governo vítima em tempo integral da ação do PT que o sabotava. Lula não se mexeu para preservar a autoridade dele. E quando Rebelo, mais tarde, precisou de apoio para se reeleger presidente da Câmara, Lula largou-o de mão. Deu no quê? Rebelo afastou-se de Lula. Está ocupado em minar a aliança de partidos que apóiam o governo ajudando Ciro Gomes (PSB) a se eleger presidente.

Lula jamais acreditou nas chances de Jacques Wagner de ganhar o governo da Bahia. Desaconselhou-o a ser candidato. Preferia tê-lo como coordenador político do governo para atropelá-lo quando quisesse – assim como fizera com Dirceu e Rebelo. Wagner foi eleito no primeiro turno. É justo reconhecer que pesou na sua eleição a determinação de Lula em derrotar o então senador Antonio Carlos Magalhães (DEM), com quem rompera.

Mares Guia foi um coordenador político à imagem e perfeição do que desejava Lula. Não o contrariava. E só lhe dava boas notícias. No que deu? Acabou abatido pela denúncia de envolvimento no caso do mensalão. O do PT? Não. O do PSDB mineiro. Espantoso! E a CPMF que ele considerava no papo o gato comeu. Esse, por sinal, foi o maior desastre desenhado até aqui pelo próprio Lula, doublé de presidente e de coordenador político.

Ainda há tempo para que Lula crie o Ministério do Vai Dar Merda proposto há anos pelo compositor Chico Buarque. Em nada comprometeria o corte de despesas. A única coisa que se exigiria do novo ministro é que tivesse bom senso. E de Lula que de fato o escutasse. Seria pedir muito a Lula? Desconfio que sim. Ele atingiu o nirvana. Dali só sairá se mudar a ainda favorável conjuntura econômica internacional.


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