Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 09, 2007

Petróleo tupiniquim na Copa 2014



Artigo - Vinícius Torres Freire
Folha de S. Paulo
9/11/2007

As novas reservas de petróleo são mesmo um feito, mas há planejamento econômico para lidar com o "emirado tupi"?

O PETRÓLEO dos novos campos gigantes da Petrobras pode entrar nos canos quando rolar a bola da Copa de 2014. Os testes feitos a fim de verificar a viabilidade do campo já são bem avançados, mas o poço ainda experimental, "piloto", deve verter óleo entre 2010 e 2011. A extração comercial pode ter de esperar até a Copa de 2014.
Nada de anormal. Nem é anormal uma euforia temporária, pois se confirma uma descoberta de fato de escala global e um feito tecnológico importante. Sempre é bom relembrar que iniciativas do Estado, como pesquisa agrícola em região tropical e de petróleo nas profundas do mar, projetos caros, de risco e hoje pilares da economia do país, jamais foram, seriam e, pelo andar da carruagem, serão assumidas pelo mercado.
A euforia foi, claro, vitaminada, dados os vexames recentes no gás. Entre piadas e marketing euforizante oficial, a gente ouvia ontem coisas como "Opep", "aumento do poderio estratégico nacional" e outras tigradas a respeito da "área" de petróleo Tupi. Mas é sempre bom ressaltar que combustíveis são mesmo estratégicos. A Petrobras é um regulador importante de preços no país. As reservas mais promissoras do planeta ficam em áreas de guerra e golpes, na Ásia e na África, as mais antigas são a confusão conhecida.
Mas a bobice da euforia pode ser medida, para começar, pelos tropeços ridículos desta semana no gás. Ou o da auto-suficiência. Faz tempo que o país tem mais gás disponível do que gás nos canos. Faltam planejamento de gasodutos, organização do mercado, de normas mais livres e estáveis para quem quiser investir, afora a Petrobras. Petróleo no chão é como terra nua. Como será extraído, em qual volume, refinado onde, por quem, para quê? E o gás? Já havia gente ontem na Petrobras a falar em termelétricas flutuantes. Mas vai se mudar de vez a dita matriz energética, vai se investir em massa em térmicas em vez de hidrelétricas?
O governo ontem deu um sinal relevante, limitando a concessão de novas áreas de exploração nesse campo boca-rica, de petróleo leve (mais raro, por aqui) e aparentemente vasto. Haverá choramingas "de mercado" sobre estatismo etc.
Mas, uma vez concedida a exploração, perde-se algo do controle sobre as reservas -se sobrar petróleo, ele será vendido. Mas qual o ritmo interessante de exportação das reservas? Vale a pena o país brincar de "Opep" ou "Opep do B" durante alguns anos e esgotar o combustível?
Combustíveis já são quase 9% do valor das exportações brasileiras. A indústria de combustíveis é a que mais cresceu, em termos relativos, no parque produtivo brasileiro na última década. Mas qual é o plano para criar mais valor por meio dessa cadeia industrial, petróleo e álcool? Vamos ter uma indústria petroquímica avançada ou o país vai se tornar um exportador brucutu de produtos primários?

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